"EU FICO TRISTE... MAS É ASSIM MESMO...!": Uma análise sobre a violência (in) visível na memória das relações familiares de pessoas idosas
Velhice; violência intrafamiliar; violência simbólica.
Esta tese discute a temática referente a violência cometida contra a pessoa idosa, mais especificamente, aquela violência vivenciada no ambiente familiar, e que em grande parte das vezes, é naturalizada, ou mesmo não percebida. A escolha deste tema se deu a partir da observação do aumento do número de casos de violência vivenciada por esse grupo geracional, mesmo após a promulgação do Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/03), o qual criminaliza esta prática e prevê pena para quem a exerce, e ainda mais, após conhecimento do perfil do agressor, que em sua grande maioria das vezes, encontra-se nos filhos, netos, noras/genros e cônjuges, o que nos leva a acreditar num número ainda maior de subnotificações, pela existência do grau de parentesco ou relação de afatividade existente, o que acaba tornando a violência uma vivência cotidiana, privada, naturalizada, e que gera muitas vezes, uma autoculpabillização por parte da pessoa idosa, por não ter criado bem seus filhos ou netos, ou por não conseguir atingir as expectativas dos mesmos. Nessa perspectiva, a hipótese é que o reconhecimento da violência, ou mesmo a denúncia desta aos órgão competentes, só ocorre quando ela se configura de maneira física, ou ainda, quando atinge graus extremos na violência patrimonial, e em ambos os casos, a decisão pela denuncia não é da pessoa idosa. Assim, objetivou-se com a mesma, identificar, através da memória dos idosos que frequentam grupos de convivência no município de Mossoró-RN, situações reais da violência, (in)visível para os mesmos, vivenciadas em sua condição de velhice, nas relações familiares, e como específicos, identificar os principais tipos de violência vivenciados pela pessoa idosa nas relações familiares; conhecer as causas da violência cometida contra a pessoa idosa e verificar a percepção das pessoas idosas frente ao quadro de violência vivenciado. Como percurso metodológico, indica-se tratar-se de uma pesquisa exploratória, bibliográfica, de campo e analítica, tendo como técnica de estudo, a história de vida, e como público alvo, 20 idosos que frequentam os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV no município de Mossoró-RN, configurando-se a análise de cunho qualitativa. A bese teórica sustenta-se na perspectiva de Beauvoir (1990), Teixeira (2008), Zygmunt Bauman (2001), Giddens (2000), Foucault (1979), Bourdieu (2001), entre outros, através dos quais é possível afirmar a confirmação da hipótese levantada, quando aquelas chamadas “violências simbólicas” se efetivam de maneira repetida e sequenciada em suas histórias de vida, caracterizando-se em sua maioria das vezes, de forma psicológica, negligência ou patrimonial, porém são naturalizadas ou não compreendidas como tal, identificando-se ainda a existência de sentimentos de culpa por parte dos idosos, da condição de violência vivenciada.