“A gente tem que se humilhar”: a atuação da igreja mundial do poder de Deus em Juazeiro do Norte
A formação de novos grupos religiosos no Brasil está inserida em uma ampla dinâmica de transformações do campo religioso nacional, fenômeno que não é recente, mas que se acelerou, tornando-se mais evidente, com a ascensão de igrejas neopentecostais no país. No meio pentecostal, a presença de grupos religiosos recém-formados abriu possibilidade para novos fluxos culturais inerentes ao surgimento de novas denominações. Em seu livro Neopentecostais ([1999] 2010), o sociólogo Ricardo Mariano, assim como fazem outros autores, propõe uma tipologia do pentecostalismo brasileiro, enfatizando, sobretudo, as principais características da “terceira onda” pentecostal, denominada por ele de neopentecostalismo, e o tom de novidade que caracteriza a sua emergência. Imersa nesse mesmo contexto está a Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), denominação fundada em 1998 a partir de uma cisão da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) na década de 90. Em detrimento dos diversos templos que possui, este trabalho dedica-se a uma reflexão crítica acerca de aspectos de sua atuação na cidade de Juazeiro do Norte - CE, analisando a sua presença no campo religioso local e a situando na seara do protestantismo nacional. A IMPD em Juazeiro do Norte apresenta as típicas características de uma igreja neopentecostal, podendo ser considerada, a priori, pertencente a tal segmento e equiparando-se ao seu maior expoente, a IURD. Apesar disso, a partir de pesquisa de campo preliminar efetuada entre 2012 e 2014, composta pela participação em cultos no templo central da IMPD na cidade e realização de entrevistas com os seus membros, percebi divergências entre a caracterização típica do neopentecostalismo, especialmente no que se refere à Teologia da Prosperidade, e discursos e práticas peculiares apresentados pela Igreja local em torno do tema “humilhação”, concebida mediante sua correlação com a noção de sofrimento. Frente a isso, questiona-se o emprego da tipologia pentecostal vigente no meio acadêmico para a leitura da atuação da Igreja em Juazeiro do Norte, levando em conta as relações de convergência e de contraposição entre elementos dessa denominação e aqueles presentes tanto no meio pentecostal como no meio cristão de forma geral. Interessado em compreender a presença da “humilhação” na IMPD, este trabalho problematiza a adequação, pertinência e possíveis limitações do uso das classificações usualmente empregadas ao pentecostalismo no meio acadêmico para a leitura da referida igreja, tendo como pano de fundo um contexto de pluralismo que caracteriza o campo religioso nacional nas ultimas décadas.
Pentecostalismo; Igreja Mundial do Poder de Deus; Humilhação; Teologia da Prosperidade; Classificações Religiosas.