O GRITO DO SILÊNCIO NA OBRA DE ERCÍLIA NOGUEIRA COBRA: De mulher demoníaca a feminista pioneira
Literatura; Ercília Nogueira Cobra; mulheres; discurso.
Ercília Nogueira Cobra foi uma escritora que causou polêmica no início do século XX com o lançamento de dois livros (Virgindade Anti-Higiênica, preconceitos e convenções hipócritas e Virgindade Inútil, novela de uma revoltada) que traziam, como tema principal, a dupla moral que a sociedade brasileira articulava para homens e para mulheres, separadamente. Seus textos, considerados fora da ordem vigente da época no qual foram lançados, acabariam sendo marginalizados, excluídos e classificados como perigosos devido ao teor de suas reivindicações que advogavam pela emancipação feminina. Ercília também seria classificada como má, demoníaca, pornográfica e subversiva. Presa e torturada fugiu sem deixar rastros, enquanto seus livros eram censurados e tirados fora de circulação. Com o passar dos anos que se seguiram ao lançamento dos seus textos, vemos como a ordem dominante constrói uma bolha de silêncio que os traga, dando a impressão de que nem ela nem seus livros – sequer – tenham existido. Décadas depois, à época da consolidação dos estudos feministas no país, entretanto, Ercília reaparece não mais como mulher má e depravada, mas como uma mulher corajosa que desafiou uma época em que ser mulher e ser escritora era algo duplamente difícil. Nosso trabalho, portanto, busca entender esses dois momentos: os motivos que levaram a construção desse silêncio ao qual os textos ercilianos foram envoltos e como, décadas depois, a figura de Ercília volta como uma das pioneiras mais radicais do Movimento Feminista Brasileiro.