HABITUS E MASCULINIDADES - A EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO DO GRUPO REFLEXIVO DE HOMENS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RN
Habitus; masculinidades; dominação masculina; violência simbólica; grupos reflexivos de homens.
A compreensão da masculinidade passa, necessariamente, pela análise do seu conceito e porque o homem ocupa uma posição diferenciada na sociedade. Há características no homem que o colocam em posição hierarquicamente superior, reconhecendo-o como o modelo hegemônico. Bourdieu (2003) refere que a tipologia do “corpo socializado, de seus movimentos e seus deslocamentos, imediatamente revestidos de significação social”. Para ele, o trabalho social é quem define socialmente os corpos, cuja inversão de causa e efeito efetua a naturalização dessa construção social. Com isso, é possível compreender como a dominação masculina encontra adesão na mulher dominada, através do que Bourdieu chama de experiência dóxica. A violência simbólica é chamada por ele de “violência doce e quase sempre invisível”. Mesmo atribuindo a possibilidade de modificar a condição da dominação masculina através de investidas severas nas estruturas que alimentam a violência simbólica, Bourdieu também abre espaço para o que ele chama de luta cognitiva, que pode trazer uma resistência à adesão dóxica à dominação masculina. Nesse contexto, abre-se também a possibilidade de alteração da máquina simbólica, que produz a violência e justifica a dominação masculina. O objetivo do presente trabalho é analisar o Grupo Reflexivo de Homens como uma experiência capaz de produzir modificações no habitus e realizar fissuras na norma da violência simbólica. O Grupo de Homens já funciona há 3 anos em Natal, com cerca de 168 egressos, e apresenta índice de reincidência zero em casos de violência contra a mulher. Comparando com os índices de reincidência do sistema penitenciário comum (70%) e do método APAC (15%), surge a indagação sobre o porquê da mudança de comportamento dos homens que participam do grupo reflexivo. A pesquisa pretende utilizar os métodos dialético e compreensivo, tendo como estratégia a análise de documentos e filmagens existentes no Núcleo de Apoio à Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar, além de realizar entrevistas semiestruturadas com egressos do programa e suas atuais companheiras.