DIGIBRAZ - POR UMA BIOPOLÍTICA DIGITAL DOS CORPOS-MÁQUINAS BRASILEIROS
Biopolítica; redes digitais; subjetividades.
Esta pesquisa se põe o problema teórico de como conceber uma biopolítica nas e pelas redes digitais de comunicação distribuída no Brasil contemporâneo. Utilizamos biopolítica no sentido que Negri e Hardt, reinterpretando o conceito foucaultiano, atribuem à expressão: o de mobilização produtiva de todo o mundo da vida (corpo, cognição, afetos, linguagem, etc.) para ampliar a potência (na acepção spinoziana de capacidade de existir e de agir) de autogoverno da própria vida na imanência da constituição do comum (construção das condições compartilhadas da existência pela cooperação entre singularidades), reduzindo ao mínimo possível os mecanismos de dominação. Usando como operador cognitivo a ideia de hibridização antropomaquínica (agenciamentos constituintes sujeitos-tecnologias) como terreno de luta, permeado por linhas de força (relações de poder/saber) e possíveis linhas de fuga, onde se joga a disputa entre reprodução (de pressupostos, discursos, práticas, linguagens, etc. hegemônicas) e produção de diferença (conhecimentos e formas de vida o menos possível capturados), propomos a superação da noção, a nosso ver, fragmentadora e reducionista de ciberativismo – que foca no “uso estratégico” das tecnologias digitais de comunicação por indivíduos e grupos, enfatizando o caráter instrumental ao invés de coagenciador das segundas, e não problematiza as possibilidades de captura das próprias mobilizações pelos mecanismos de dominação – pela de biopolítica digital como produção incessante e imanente de comum nas/pelas redes, interrogando-se sobre quais condições podem favorece-la na realidade brasileira. Para fazer isso, em um primeiro momento nos interrogamos sobre as subjetividades expressas nos protestos de junho de 2013 no Brasil, procurando cartografar quais linhas de força reforçaram/reproduziram e quais potenciais de êxodo manifestaram. Sucessivamente, nos pomos a questão de como pensar as redes digitais, suas lógicas e possibilidades de uso e suas relações com os sujeitos humanos, com a produção de subjetividades e com as sociedades/culturas-naturezas em sua multiplicidade. Em seguida, exploramos os mecanismos e processos de captura das subjetividades, as linhas de força que permeiam as interações entre sujeitos e redes digitais na sociedade/cultura-natureza brasileira. Por último, entrecruzando essas dimensões, pensamos em condições e princípios que possam estimular uma biopolítica digital que abra brechas nas linhas de forças e subjetivação do biopoder (poder de regulação da vida) brasileiro, forjando – inspirados nos conceitos de MundoBraz e KorpoBraz de Giuseppe Cocco, que os entende como potência criadora de mundo, respectivamente, da hibridização e dos corpos brasileiros – a ideia de DigiBraz como produção incessante de diferença e de comum nas/pelas redes digitais pelos corpos-máquinas brasileiros.