Ercília Nogueira Cobra e o escuro silêncio: reinvenção, invisibilidade e emergência nas obras Virgindade Anti-Higiênica e Virgindade Inútil
Mulheres; escritoras; invisibilidades; reinvenção.
Ercília Nogueira Cobra foi uma escritora do início do século XX. Com duas obras reconhecidas com mais de cinco edições, teve seus textos tirados fora de circulação pela censura da época. Pelo conteúdo considerado ofensivo, sua obra sofreu um processo de marginalização: categorizada como pornográfica e demoníaca, aos poucos os textos ercilianos foram silenciados e, Ercília, traumatizada pela tortura que sofreria durante o Estado Novo e com fama de escritora “revoltada”, desaparece sem deixar rastros. Somente após cinco décadas do lançamento de seus livros, Ercília volta a ter seus trabalhos revistos e reinterpretados, junto a tantas outras escritoras brasileiras “esquecidas” numa verdadeira arqueologia literária de suas obras. Através de seus textos que falavam de casamento, maternidade, prostituição, amor livre e homossexualidade acreditamos que Ercília Nogueira Cobra apontava uma outra alternativa de pensar o feminino e que essa potencialidade de reinvenção do imaginário do que deveria ser uma mulher fugia da lógica dominante. Propomos, então, a partir de categorias elaboradas por Boaventura de Sousa Santos, Michel Foucault e Gaston Bachelard, pensarmos a produção de uma invisibilidade dos textos ercilianos à época de seu lançamento.