ARTES DE VIVER: A TENDA DO CONTO (MEMÓRIAS, DORES E SENSIBILIDADE NA ATENÇÃO À SAÚDE)
Tenda do Conto; Micropolítica; Atenção Básica à Saúde; Sistema Único de Saúde; Pesquisa-intervenção.
A pesquisa explora uma prática não convencional, inventiva, de cuidado na Atenção Básica – a Tenda do Conto – onde trabalhadores e usuários do Sistema Único de Saúde revelam atitudes que apontam para abertura de possibilidades de outros modos de produção de saúde, em direção à construção de novas modalidades de vínculos institucionais e sociais. Produção de afetos e processos de subjetivação ganham relevância nesse enfoque. A pesquisa-intervenção, na qual saberes do cotidiano e saberes acadêmicos se entrelaçam está circunscrita na referida experimentação em que usuários e trabalhadores compartilham sentidos de vida, pela circulação de relatos de experiências comuns. No percurso da pesquisa acompanhamos os movimentos micropolíticos produzidos nos lugares onde a prática vem sendo experimentada por meio da vivência em ato, através de entrevistas e junto aos participantes da Rede HumanizaSUS (rede colaborativa de pessoas envolvidas na humanização da gestão e atenção do SUS), de modo a compreender como essas experimentações se desdobram em meio às contingências do modelo instituído homogeneizador e medicalizante das práticas em saúde. Procuramos, assim, identificar tanto os limites impostos quanto as capacidades de promoção de micro transformações no processo de trabalho, evidenciando as linhas de tensões que afetam tanto o plano objetivo das práticas institucionais como o plano subjetivo dos usuários e trabalhadores. Concebendo como arte – o fazer, o contar e o inventar – o estudo explora os percursos da experimentação Tenda do Conto no período de 2008 a 2014, destacando que a escuta de narrativas de vida reverte figuras anônimas de desejo de reconhecimento em figuras de reconhecimento do (seu) desejo. Pelo recurso narrativo, nota-se a tentativa de, por um lado, alcançar-se a almejada ampliação do diálogo entre saberes de diferentes registros e, por outro, conseguir o necessário deslocamento de olhares sobre a saúde em direção a uma partilha de sentidos, tendo a vida e a afetividade como ingredientes primordiais.