PARENTES, VIZINHOS E COMPADRES
ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA E RELAÇÕES INTERRACIAIS NA BOA VISTA DOS NEGROS
Relações interraciais; Resistência; Seridó; Boa Vista dos Negros.
RESUMO
A ausência de estudos sistemáticos sobre a questão étnica impediu visualizar a pluralidade racial do sertão do Seridó. Com as políticas públicas favorecendo o debate sobre as emergências étnicas criadas no início do séc.XXI, as relações interraciais começaram a ser objeto de pesquisa antropológica e histórica, colocando em xeque o discurso das elites regionais. Na linha dessas investigações, o presente trabalho propõe retomar o problema a partir das dinâmicas locais: serão observadas as relações que a comunidade quilombola da Boa Vista dos Negros mantém com seus vizinhos, os representantes das elites locais, tais como fazendeiros, as autoridades eclesiais e políticas. Numa perspectiva que associa a antropologia à história, pretende-se aqui explorar as memórias quilombolas em diálogo com as que são produzidas nas comunidades vizinhas. Para isso, além da coleta da tradição oral e os resultados da observação participante, precisa explorar as fontes históricas disponíveis a fim de melhor compreender a realidade estudada. Assim, as relações interraciais observadas localmente serão analisadas a partir de fragmentos de trajetórias de personagens chave, especialmente Theodózio Fernandes da Cruz (1864-1951), liderança histórica reconhecido como o principal mediador entre os quilombolas e a sociedade englobante. Evidenciam-se estratégias de resistência visando manter a integridade do território e aceder a benefícios. O andamento da pesquisa tem revelado que a comunidade em foco mantém internamente memórias que revelam uma outra história local que, aos poucos, está sendo escrita. É ainda destacada a habilidade dos quilombolas no que diz respeito a aproximações e distanciamentos com as povoações do entorno, de forma que a discriminação e quaisquer outras formas de opressão sejam evitadas.