A INVESTIGAÇÃO DOS TERREMOTOS DOS ANOS DE 1980 EM JOÃO CÂMARA/RN: UM CONTEXTO EPISTEMOLÓGICO À LUZ DA TEORIA ANTROPOLÓGICA DO DIDÁTICO
Sismologia; João Câmara/RN; Problema sociocientífico; Praxeologia; Ensino de Ciências.
O Brasil não está livre de terremotos e estudos apontam que, entre os anos de 1970 e 2013, foram registrados mais de 14 mil abalos sísmicos, predominando eventos com magnitudes inferiores a 3.0 na escala Richter. Alguns desses abalos podem ser mais intensos e provocar danos estruturais consideráveis, a exemplo dos terremotos de João Câmara/RN (JC) registrados na década de 1980. Em esforço conjunto de diversas instituições e pesquisadores na investigação dessas ocorrências no interior do RN, chegou-se a Falha Sísmica de Samambaia (FSS), tornando-se produto de um episódio cientifico da História da Ciência Brasileira (HCB). Por outro lado, no âmbito da Educação Básica e em temas que tocam a sismologia, os elementos históricos e epistemológicos que permeiam esse episódio não são plenamente (re)conhecidos e abordados, a exemplo do Referencial Curricular do Ensino Médio Potiguar (RCEMP), suprimindo, assim, o potencial da concepção de Ciência como prática social coletiva e em constante transformação, bem como a possibilidade de um ensino da sismologia epistemologicamente aprofundado. Nesse sentido e fundamentado na Teoria Antropológica do Didático (TAD), do matemático francês Yves Chevallard, esta tese defende que o entendimento dos constituintes praxeológicos e dos níveis de organização praxeológica, na investigação dos abalos sísmicos da década de 1980 ocorridos em JC, podem fomentar o aprofundamento epistemológico de conhecimentos sobre sismologia potencialmente relevantes para o currículo de Ciências da Natureza na Educação Básica. Para isso, por meio da pesquisa do tipo qualitativa, buscou-se compreender os conhecimentos científicos relacionados à investigação dos terremotos de JC, valendo-se da intertextualidade entre fontes primárias e secundárias oriundas de trabalhos acadêmicos, acervos de jornais impressos e consultas a pesquisadores. Paralelamente, à luz da TAD, esses conhecimentos foram categorizados e analisados com base nos elementos constituintes da Organização Praxeológica de Referência (OPR), especificamente, na prática social dos pesquisadores em Sismologia sobre o caso em questão. Em linhas gerais, destaca-se que a elaboração desse modelo praxeológico resgatou a identidade do saber-fazer responsável pelo modelo explicativo da FSS e propiciou discussões associadas ao seu estudo e potencialidade didática. Os resultados principais apontam ainda que a compreensão da OPR resultante dos estudos históricos e epistemológicos empreendidos nesta tese possuem rico potencial para o desenvolvimento de propostas didáticas envolvendo esse episódio científico e seus aspectos relativos à Natureza da Ciência. A pesquisa culmina discutindo também a potencialidade dos subsídios teóricos da TAD, ponderando as condições didático-epistemológicas para a elaboração de unidades de ensino aprofundadas em contextos sociocientíficos.