Endometriose; Trabalho; Processo saúde-doença; Determinação Social da Saúde; Contradições do capitalismo.

A endometriose é uma doença ginecológica dolorosa e incapacitante que acomete 7 milhões de brasileiras em idade produtiva, na qual a maioria dos estudos denunciam seus impactos na vida profissional da mulher, quanto ao absenteísmo, ao presenteísmo, a perda salarial e a queda na produtividade e reduzem a discussão apenas à força de trabalho que a portadora de endometriose tem a oferecer, desconsiderando como as condições de trabalho moldam não apenas as relações de trabalho, como também alteram a forma tradicional do surgimento das doenças; pois na morfologia da exploração não se desgasta apenas a maquinaria, as consequências para a saúde das trabalhadoras implicam em novas formas de adoecer e morrer.

Por esse motivo, esse estudo pretende responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como as condições materiais de produção estão relacionadas com a saúde e com a doença de mulheres portadoras de endometriose no contexto de trabalho? Para tal compreensão, este trabalho segue fundamentado na teoria marxiana, pois em se tratando de saúde, gênero e relações de trabalho, o tema nos remete imediatamente a obra marxista, não que a história seja determinada apenas no universo da produção, mas ela resulta das relações de produção. E sabendo que a relação trabalho-capital é descrita como uma categoria central do processo saúde-doença, a presente pesquisa também se apoia na teoria da Determinação Social da Saúde, porque essa concepção apreende o processo saúde-doença como um processo que se origina no modo capitalista de produção, como expressão de suas contradições. Uma compreensão que, ancorada no materialismo histórico-dialético, estabelece a associação direta entre o processo saúde-doença e as condições materiais de produção, pois toma como base a análise e a problematização da formação da estrutura de classes para compreender as iniquidades em saúde. Para tanto, parte-se de uma Revisão Sistemática da Literatura para identificar os principais apontamentos encontrados por outros autores quanto a realidade que as portadoras de endometriose enfrentam no contexto profissional e doméstico; discorre-se sobre as concepções e as condições históricas do processo saúde-doença, que não se limita aos aspectos biológicos, mas considera o papel do capitalismo nesse contexto a partir da Determinação Social da saúde; analisa-se as principais políticas de saúde da mulher direcionadas a esse público, a fim de revelar sob quais bases o processo saúde-doença dessas mulheres tem se apoiado; compara-se o quantitativo de mulheres agravadas atendidas pelo SUS com o número de assistências concedidas pelo INSS e; por fim, pretende-se refletir o processo de trabalho da mulher com endometriose no capitalismo, ao discutir os resultados apresentados pela revisão sistemática e interpretar o processo saúde-doença dessas trabalhadoras a luz da teoria marxista e a luz da teoria da Determinação Social da Saúde.