“Ervas mágicas do quintal (ao consultório): o ensino da fitoterapia na formação médica e sua aplicabilidade na atenção primária à saúde.”
Fitoterapia; Atenção Primária à Saúde; Residência; Medicina de Família e Comunidade
Introdução: A fitoterapia é a prática terapêutica que utiliza plantas medicinais para a prevenção e tratamento de diversas condições de saúde. No Brasil, essa abordagem tem forte influência da medicina tradicional indígena, africana e europeia, sendo amplamente utilizada na atenção primária à saúde. O país, por abrigar uma das maiores biodiversidades do mundo, possui um grande potencial para o desenvolvimento de fitoterápicos, que são regulamentados pela ANVISA e fazem parte da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, integrando-se ao SUS como uma alternativa complementar ao tratamento convencional. Apesar dessa vocação conjuntural do Brasil para o uso da fitoterapia, conforme recomenda a Organização das Nações Unidas desde os anos de 1970, o ensino formal da fitoterapia não é bem desenvolvido no âmbito dos cursos de graduação em medicina, bem como nos programas de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade. Este trabalho tem por objetivo analisar a formação do Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade do Hospital Universitário Onofre Lopes (PRMFC/HUOL) quanto ao conhecimento em fitoterapia, bem como compreender o conhecimento sobre fitoterapia (seus usos, princípios e aplicabilidade) dos profissionais médicos residentes da Atenção Primária à Saúde. Metodologia: Trata-se de um estudo exploratório, observacional, transversal, subsidiado na Teoria das Relações de Poder de Michel Foucault. Com efeito, ressalta-se a importância da fitoterapia, sua empregabilidade nos cuidados em saúde promovidos na Atenção Primária à Saúde, perpassando pela qualificação da formação médica no âmbito da Medicina de Família e Comunidade. Trata-se de um estudo de caso com análise qualitativa, desenvolvido com residentes do Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade do Hospital Universitário Onofre Lopes (PRMFC/HUOL) matriculados no referido programa de residência médica no ano de 2024. A escolha realizada pelo programa de residência médica - MFC, se dá em virtude de os residentes da referida especialidade terem contato com a população que mais utiliza ervas medicinais e demais plantas com fins terapêuticos. Este estudo representa uma nova forma de olhar a fitoterapia e o universo da formação médica. Permite explorar, por meio da análise do discurso de residentes os pontos de destaque da fitoterapia, bem como os problemas envolvendo a utilização deste recurso na Atenção Primária à Saúde e as relações de poder implicadas. Compõe o corpus desta pesquisa um total de 31 minutos e 14 segundos de transcrição de debates obtidos em Grupo Focal ocorrido em 10 de abril de 2024, no Departamento de Saúde Coletiva da UFRN, no Campus Central, em Natal/RN. Foi registrada a presença de 11 (onze) residentes do Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade do HUOL/UFRN. Resultados e Discussão: Podemos observar que dentre os residentes participantes, foi constatado a presença de 07 (sete / 63,64%) participantes do sexo masculino e 04 (quatro / 36,36%) participantes do sexo feminino. Quanto às Unidades de Saúde da Família em que são lotados os residentes, podemos observar que todas as USFs estão localizadas no Município de Parnamirim/RN, onde o HUOL/UFRN tem instalado o Programa de Residência Médica de Medicina de Família e Comunidade. Não foram excluídos residentes que compareceram à atividade da residência agendada para o dia em questão. Não houve recusa, nem tampouco critérios para exclusão. Para composição da análise dos dados coletados, foram estabelecidas cinco categorias, que refletem os principais sentidos produzidos sobre a formação médica e a fitoterapia. Assim, observa-se que o presente estudo sobre fitoterapia, realizado entre os residentes do Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade do HUOL/UFRN, revelou que algumas políticas públicas brasileiras contempla o uso de plantas medicinais em consonância com a Organização das Nações Unidas que recomenda esta prática na Atenção Primária à Saúde. Os achados também indicam que a população das áreas pesquisadas, apesar de carente, demonstra boa adesão ao tratamento com fitoterápicos. No entanto, os profissionais médicos não recebem capacitação adequada sobre o tema durante a graduação e a residência, criando um descompasso entre as necessidades da população e as opções terapêuticas oferecidas. Conclusões: O uso de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil está enraizado na cultura popular e na medicina tradicional. No entanto, a formação médica atual não prepara adequadamente os profissionais para orientar pacientes sobre fitoterapia na Atenção Primária à Saúde. A pesquisa identificou lacunas no ensino da fitoterapia tanto na graduação em Medicina quanto na Residência de Medicina de Família e Comunidade. Profissionais recorrem a pesquisas informais para suprir essa deficiência. Muitas vezes esses profissionais optam por não adentrar em práticas terapêuticas que não dominam, o que acarreta restrição de oportunidades para pacientes. A inclusão de fitoterapia na formação médica contribuiria para um atendimento mais seguro e eficaz, alinhado às diretrizes nacionais de práticas integrativas e complementares à demanda crescente da população.