MODELO DE TREINAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETENCIAS EM ULTRASSONOGRAFIA APLICADA A REALIZACAO DO PROTOCOLO EFAST NA GRADUACAO DE MEDICINA E RESIDENCIA MEDICA.
Educação Baseada em Competências; Aprendizagem Baseada em Problemas; Métodos de Ensino; Ultrassonografia; Protocolo eFAST
Introdução: A ultrassonografia à beira do leito, chamada Point-of-Care Ultrasound (POCUS), é uma ferramenta diagnóstica eficaz para a avaliação rápida de pacientes críticos. O protocolo eFAST (Extended Focused Assessment with Sonography for Trauma) é amplamente utilizado para diagnosticar lesões graves em contextos de trauma. Apesar do avanço do ensino de POCUS desde os anos 1990, sua implementação em instituições brasileiras ainda é limitada. Objetivos: Elaborar e implantar um modelo de treinamento para capacitar estudantes e residentes na realização do protocolo eFAST, avaliar o conhecimento pré e pós-treinamento e propor a inclusão dessa metodologia no currículo formal do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Método: Foi realizado um estudo quase-experimental, descritivo, analítico e prospectivo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL). Participaram 157 indivíduos divididos em três grupos: estudantes do ciclo clínico (N=51) da disciplina de Medicina de Urgência, estudantes do internato (N=78) de Urgência e Emergência e residentes médicos (N=28) vinculados ao HUOL. Foram excluídos (N=13) os que não consentiram participar, desistiram ou se afastaram das atividades institucionais. O treinamento incluiu três etapas: 1) Aula expositiva dialogada (60 minutos) sobre os princípios básicos da ultrassonografia e do protocolo eFAST. 2) Sessão prática (2 horas) para aprendizado do manuseio do equipamento e execução do protocolo em voluntários. 3) Prática supervisionada em pacientes da UTI Adulto do HUOL, exclusivamente para o grupo de residentes. As avaliações incluíram questionários de 11 itens aplicados pré e pós-treinamento, sendo este último em dois momentos (imediatamente após etapa 1 e após etapa 2), avaliação de retenção para os estudantes do ciclo clínico, aplicação do Exame Objetivo Clínico Estruturado (OSCE) para os internos, e Observação Direta de Procedimentos (DOPS) para os residentes. Questionários de satisfação também foram aplicados ao final. Os dados foram analisados com nível de significância de 5%. Resultados: Todos os grupos apresentaram melhora significativa no conhecimento após o treinamento (p-valor < 0,0001), apresentando média no pós-teste, após sessão prática, de 8.11, 8.75 e 8.79 para os grupos ciclo clínico, internato e residência, respectivamente. No ciclo clínico, estudantes que não participaram da prática obtiveram desempenho inferior na avaliação cognitiva de retenção (p-valor = 0,015). No OSCE, os internos tiveram média de 78% de aproveitamento, enquanto, no DOPS, 70% dos residentes foram considerados aptos a realizar o protocolo com supervisão, e 30%, de forma independente. Sobre a satisfação, 79,4% dos participantes relataram sentir-se confiantes em aplicar o protocolo eFAST, e mais de 90% avaliaram positivamente o modelo de treinamento. Conclusão: O modelo proposto demonstrou eficácia, promovendo uma melhoria significativa no desempenho dos participantes nas avaliações. Além disso, a metodologia mostrou-se bem avaliada pelos estudantes e residentes, sendo uma ferramenta promissora para capacitação em ultrassonografia no contexto da educação médica brasileira.