UMA DESCRIÇÃO SONORA CONTEMPORÂNEA DO IMAGÉTICO TRADICIONAL ARMORIAL COMO SUBSÍDIO PARA ABORDAGENS INTERPRETATIVAS DO CICLO DE CANÇÕES “VISAGEM” DE NELSON ALMEIDA
música de câmara, música brasileira, música textural, paisagem sonora, armorial, imagético, técnicas estendidas, performance
Este projeto pretende sugerir ambientes sonoros a partir da proposta de imagens montadas segundo a descrição do texto 'A Visagem da Moça Caetana', de Ariano Suassuna, a fim de gerar possibilidades sonoras individuais que auxiliem os instrumentistas na interpretação do ciclo de canções “Visagem”, do compositor Nelson Almeida.
O ciclo composto em 1996 para a formação camerística de canto, viola, violoncelo e clarone/clarinete, é constituído por 3 peças sem títulos, enumeradas como 'Canção 1', 'Canção 2' e 'Canção 3'. Seu texto em forma de prosa foi extraído do Folheto XLIV do Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e descreve uma sentença de morte num percurso ilustrado por símbolos e vocabulário da Estética Literária Armorial, usando neologismos e fonética peculiar dos Estados de Pernambuco e Paraíba.
Mais que a análise das dificuldades técnicas individuais de execução, este trabalho quer trazer informações úteis aos intérpretes quanto aos timbres e às texturas sonoras utilizadas por Almeida para retratar o tradicional através da linguagem musical contemporânea. Para tanto exploraremos as metáforas e as transgressões do racional no texto de Suassuna para esboçar três composições de imagens que conduzam os intérpretes –
especialmente os que não têm afinidade com o cenário geográfico e com o contexto sóciopolítico-religioso a que se refere a poesia – à sua descrição sonora, extrapolando as indicações técnico-interpretativas limitadas pela escrita musical.
Utilizaremos como mecanismos de pesquisa a própria partitura, a produção literária existente sobre o tema, discussões com os instrumentistas que executaram a obra, entrevistas com o compositor sobre sua concepção sonora, e depoimentos de compositores e intérpretes inseridos na Estética Musical Armorial desde a primeira geração do Movimento até o momento atual. Como ferramenta para verificar nossa teoria será fundamental termos materializadas as três imagens em xilogravuras – para se manter a coerência com a ideologia Armorial – por um artista popular que tenha vivência na ilustração de literatura de cordel.