Pé-de-manga mulher: narrativas dos encontros com as mulheres do Quilombo de Caluete (PE) e suas organizações políticas
Mulheres Quilombolas; Participação Política; Associação Quilombola; Epistemologias Feministas.
O município de Garanhuns, localizado no agreste pernambucano, tem em sua história a marca da trajetória de luta do povo negro, que foi escravizado, mas que também resistiu e resiste em seus diversos modos de organização política. Esta cidade se localiza em uma região onde há seis quilombos, e em todos estes existem suas associações quilombolas, espaços necessários na viabilização de seus direitos. A comunidade quilombola de Caluete é popularmente conhecida como a única em que sua liderança é uma mulher. É ela quem preside sua associação, e também são outras mulheres que ocupam a maioria dos cargos de sua diretoria. Entretanto, neste contexto há fortes expressões da colonialidade do poder e de gênero, que se desdobram em invisibilidade e dificuldades na organização e mobilização dessas mulheres em seus trabalhos. É a partir desta problemática que se deu esta pesquisa, na tentativa de compreender como se constitui a organização política das mulheres quilombolas da comunidade de Caluete, no contexto de sua associação, através de articulações com epistemologias feministas e decoloniais. O objetivo principal da pesquisa é compreender como se constitui a participação política das mulheres quilombolas no contexto da Associação Quilombola de Caluete. Como objetivos específicos propomos: a) compreender as práticas de resistência no processo da participação política das mulheres no contexto da associação através de suas narrativas; e, b) analisar como suas participações políticas atravessam e mobilizam os espaços familiares, comunitários e institucionais. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, numa perspectiva de pesquisa narrativa, que a partir da sugestão das participantes utilizou a contação de histórias como ferramenta participativa para a construção de compreensões sobre suas lutas enquanto mulheres quilombolas em suas organizações políticas, tradicional e associativista. Participaram mulheres quilombolas, que fazem parte da Associação de Quilombola de Caluete, como associadas ou com cargos de diretoria e presidência. Construímos narrativas entre pesquisadora e participantes, afirmando a história da população negra no território apontado, e como esta história é constantemente negada e silenciada. Junto às mulheres do Quilombo de Caluete foi possível compreender em suas experiências singulares, coletivas e territorializadas, que são estas as protagonistas da sustentação da vida em sua comunidade. Através de seus trabalhos nas diversas formas de organização política, junto às suas construções de manutenção das memórias coletivas, de seus tradicionais modos de cuidado e das celebrações com seu povo.