DINÂMICAS DE FUNCIONAMENTO FAMILIAR E USO DE DROGAS: IMPLICAÇÕES NO CUIDADO PSICOSSOCIAL
Famílias; drogas; políticas públicas; práticas de cuidado
As concepções hegemônicas sobre drogas, os pertencimentos sociais das famílias e as diretrizes postas pelas políticas públicas reverberam nas práticas de cuidados e na maneira de conceber os problemas relacionados ao uso de drogas no contexto familiar. O presente estudo tem como objetivo investigar a relação entre as dinâmicas de funcionamento familiar e os modos de cuidado relacionados ao uso de drogas em uma perspectiva cartográfica. Mais especificamente, se propõe a mapear os problemas e tipos de recursos que as famílias disponibilizam, discutir as diferentes dinâmicas familiares na relação com o uso de drogas, e propor à luz da perspectiva esquizoanalítica, estratégias para que possam lidar com os problemas relacionados ao uso de drogas por algum de seus membros. Para tanto, realizou-se um estudo qualitativo focado no caso de duas famílias com características socioeconômicas distintas. Para construção dos dados foram feitas entrevistas abertas individuais e grupais, observação e registro em diário de campo a partir dos encontros (em média 25) com cada uma delas. Identificou-se que a ausência de suporte adequado na rede de atenção psicossocial, sobretudo, nos serviços substitutivos, reduz as potencialidades de autonomia e emancipação nas práticas de cuidado operadas pelos familiares. Esse fator incide diretamente nas dinâmicas de funcionamento familiar que se organizam em torno do suporte e ajuda mútua entre os próprios familiares, mas que diante da falta de opções e do desamparo, fragilizam-se ao procurar respostas ligadas à medicalização excessiva ou isolamento social. Propõe-se, a partir disso, estratégias de cuidado que se distanciem de formas reducionistas, que envolvam as famílias na construção de projetos terapêuticos singulares, que respeitem as especificidades dos contextos familiares, e que sejam promotoras de modos de vida mais potentes diante dos problemas decorrentes do uso de drogas, sobretudo, tendo como foco o cuidado não só da pessoa que faz uso de drogas, mas do grupo familiar como um todo.