INSIGHT E TRANSTORNO DE ASPERGER
Transtorno de Asperger; Insight, Dialogismo; Psicologia Histórico Cultural; Autismo
O presente estudo objetivou ampliar a compreensão acerca dos processos de insight no Transtorno de Asperger (TA). Entende-se por insight o conhecimento do próprio diagnóstico e os sentidos construídos a partir deste. O desenvolvimento do insight é aqui compreendido não como função da vida mental pessoal, mas como fenômeno intersubjetivo, forjado nas relações sociais. O arcabouço teórico que subsidia a presente pesquisa é a perspectiva genética de desenvolvimento avançada pela psicologia histórico-cultural. Nesta perspectiva, ressaltam-se os processos de construção de sentido, considerando para tanto a inserção histórico-cultural do sujeito e suas vivências. Assim, para o estudo defende-se que o entendimento sobre “como é ser Asperger” precisa ir além da consideração dos aspectos cognitivos compartilhados socialmente sobre esta condição clínica. Torna-se indispensável o esforço de compreensão dos sentidos e vivências destes sujeitos sobre sua condição e do mundo que os cerca. Diante disso, têm-se o construto de insight como fenômeno complexo que demanda investigação ampla e aprofundada. Buscando atingir os objetivos avançados pelo estudo, foram propostas atividades em três etapas que investigaram aspectos relacionados às experiências asperger. Primeiramente, foi realizada a produção de uma narrativa acerca da questão que norteia o estudo: “Como é ter TA?”. Como estratégia facilitadora da produção narrativa, recorreu-se à mediação de um personagem alienígena para o qual eles deveriam produzir uma narrativa que possibilitasse o entendimento da experiência asperger, pois este seria de outro planeta e não saberia nada sobre o TA. Após essa etapa, foi realizada entrevista semi-estruturada objetivando investigar aspectos relacionados ao conhecimento formal que os sujeitos têm do TA. Em sequência, foi proposta nova atividade com dois objetivos complementares, a saber, a capacidade de identificação de características do TA em terceiros, que por sua vez, serviu de facilitador para o segundo objetivo que foi a produção de sentidos para as próprias vivências dos sujeitos em relação ao TA. Participaram do estudo três sujeitos entre 15 e 20, selecionados por conveniência, com diagnóstico prévio de TA e com conhecimento deste há pelo menos cinco anos, tempo este considerado suficiente para a construção de significados e sentidos sob a condição do diagnóstico clínico. Também participaram seus respectivos pais, que realizaram também as mesmas etapas da pesquisa que seus filhos, mas foram convocados a respondê-las como se fossem estes. Como resultados observou-se que eles produziram narrativas sobre o diagnóstico de TA e que em suas conceptualizações estiveram presentes diversos elementos reconhecidamente presentes em discursos científicos e da mídia sobre o diagnóstico. Quanto ao sentido do TA para eles, observou-se novamente a presença de discursos da mídia, mas principalmente foram vistas diversas aproximações entre o discurso destes e de seus pais. Assim, foi observado que a constituição do discurso sobre o próprio diagnóstico para os indivíduos com TA teve grande influência dos discursos sociais, principalmente de pessoas mais próximas. Os resultados sugerem que uma característica dos processos de insight no TA pode ser descrita como disrupção na transição de um modo monológico para um dialógico de pensamento. Acredita-se que os resultados aqui encontrados contribuem para a compreensão da singularidade da existência e da experiência subjetiva.