Urbanização e modos de vida: debate sobre determinação social da saúde na
cidade
saúde urbana, saúde mental, território, Vila de Ponta Negra.
As desigualdades em saúde constituem o centro da relação entre condições de vida,
recursos sociais, assistência e situação de saúde, sobretudo em contextos urbanos.
Destaca-se a importância de compreender as raízes, mecanismos e dinâmicas das
desigualdades sociais e como estão dispostas de forma singular nos territórios. No Brasil,
atualmente, mais de 85% da população é urbana. O processo acelerado de urbanização
produziu cidades extremamente desiguais, marcadas pela força do capital imobiliário,
informalidade, pobreza, infraestrutura inadequada e degradação ambiental. Esse
quadro nos leva a questionar de que forma tais aspectos condicionam a saúde e, mais
especificamente, o sofrimento psíquico da população. Sendo assim, realizamos uma
pesquisa na Vila de Ponta Negra, localizada em Natal/RN, devido ao seu processo de
urbanização e configuração comunitária peculiar. Objetivou-se analisar a determinação
social da saúde mental e as estratégias de enfrentamento de seus moradores. Foram
realizadas 11 entrevistas com moradores da comunidade e 11 com profissionais da
Unidade Básica de Saúde de Ponta Negra, mapeamento dos recursos comunitários,
registros fotográficos, observação participante nas ruas e participação em grupos
comunitários. A história da antiga comunidade de pescadores e agricultores foi marcada
pelo conflito de terras e privatização do espaço em função das atividades turísticas e
imobiliárias. Isso produziu desigualdades sócio espaciais que influenciam os modos
de vida, consequentemente, na saúde mental da população. Identificamos mulheres
com familiares em situação de consumo e tráfico de drogas, que, somada à sobrecarga
de trabalhos domésticos estão associados a sintomas de “doença dos nervos”. Como
maiores problemas da vila os moradores detectam o tráfico de drogas e a violência; o
lixo; a carência de escolas e creches; a falta de segurança e de espaços recreativos,
o que é associado ao aumento do consumo de drogas. Há uma contradição no bairro,
ícone do lazer e da fruição, porém faltam alternativas favorecedoras da convivência, das
manifestações de cultura popular e práticas desportivas para os moradores. Quanto aos
profissionais de saúde, identificamos um conhecimento superficial sobre a comunidade,
indicando um trabalho desconectado do território, agravado pela ausência de equipe
de Saúde da Família. Foram identificados 21 recursos comunitários, além de grupos de
dança popular, porém pouca articulação entre eles. Como potencialidades, podemos citar
a presença e proximidade de serviços e comércio local, fortes relações de vizinhança e
a riqueza cultural. Dentre os grupos encontrados, destacamos a atuação de dois deles
para mobilização política e integração comunitária: o Coletivo das Dez Mulheres e a Feira
Feito na Vila. Concluímos que a despeito de uma história marcada por uma desigualdade
social ocasionada pela disputa pelo espaço, o que afeta fortemente a saúde dos seus
moradores, a Vila resiste e traz em sua dinâmica comunitária pistas importantes para sua
própria reabilitação.