Repensando a criatividade: desenvolvimento, implementação e avaliação de um programa interventivo para crianças em situação de alta pobreza.
Criatividade; Vulnerabilidade; Educação; Escolarização; Perspectivas;
Como habilidade inerente a todos os indivíduos, é amplamente aceito que a criatividade pode ser estimulada por meio de estratégias interventivas. Destacam-se as abordagens mistas para a estimulação da habilidade como técnica holística para abarcar o perfil e o processo criativo. O presente estudo teve como objetivo desenvolver, aplicar e analisar o impacto de um programa interventivo de média duração em criatividade e linguagem para crianças em situação de alta pobreza. O estudo 1 abordou o desenvolvimento das etapas de construção do Laboratório de Unificação Criativa para Construção e Autonomia (LUCCA). O estudo 2 apresentou método misto, participaram 46 crianças, matriculadas no 4o ano do Ensino Fundamental em Natal/RN e foram divididos em: Grupo de Estudo (GE) e Grupo Controle (GC). Das 46 crianças, 23 utilizaram o LUCCA (GE) e as outras 23 não utilizaram o LUCCA (GC). Antes e depois da intervenção, foram avaliadas: criatividade, clima para a criatividade, concepções de criatividade, comportamento orientado para o futuro, discurso narrativo oral, e vocabulário expressivo, com os seguintes instrumentos: Teste Brasileiro de Criatividade Figural (TCFI), Escala sobre Clima para a Criatividade em Sala de Aula, Questionário Qualitativo Sobre Criatividade, Escala, Possibility Thinking Scale (PTS), Discurso Narrativo Oral Infantil (DNOI), Teste Infantil de Nomeação (TIN), Teste de Vocabulário por figuras USP (TVFUSP). A análise dos dados foi realizada a partir de duas abordagens: 1) quantitativa: por meio de análise estatística inferencial descritiva, utilizando-se nível de significância de 5%. Foram realizadas análises comparativas intergrupo (grupo controle vs. grupo de estudo) nos dois momentos (pré e pós-intervenção) e foi utilizado o teste Mann-Whitney. Para comparações intragrupo (pré vs. pós-intervenção dentro de cada grupo) foi utilizado o teste de Wilcoxon. Para comparação entre os dados nominais, utilizou-se o Teste de Qui-Quadrado; 2) qualitativa: para a análise dos dados qualitativos (entrevistas e gravações), foi empregada a análise temática, metodologia qualitativa para identificar, analisar e relatar padrões (temas) a partir dos dados coletados para analisar as diferentes percepções de criatividade ao longo do tempo (antes, durante e após a intervenção) dos grupos. Os resultados do estudo 1 indicaram o LUCCA como um programa de média duração, com 20 encontros divididos a partir da contação de histórias de quatro livros infantojuvenis. Objetivou estimular as habilidades de linguagem (vocabulário, discurso narrativo oral), e criatividade. O LUCCA se destacou pela adaptabilidade e flexibilização, além de promover o protagonismo e a construção de identidade pelos participantes. Os resultados preliminares do estudo 2 indicaram diferenças significativas em GE antes e depois da intervenção para as habilidades de criatividade e linguagem. Já ao comparar GE e GC nos dois momentos, apenas um fator de criatividade (aspectos cognitivos) demonstrou diferenças estatísticas.