A Experiência de Ser Mãe de Crianças Vítimas de Abuso Sexual: Uma Compreensão Fenomenológica
Abuso sexual infantil; mães; pesquisa fenomenológica.
A violência sexual contra crianças e adolescentes é considerada uma questão de saúde pública não só pela sua ocorrência, mas pelas sérias repercussões que a experiência abusiva traz para a vítima e sua família. Frequentemente, a mãe é a cuidadora principal dos filhos no contexto familiar e acaba sendo esperado que ela seja a pessoa a perceber possíveis sinais de um abuso sexual. Dada a complexidade e gravidade desse fenômeno, faz-se necessário que sua análise seja cuidadosa na consideração da participação dos membros da família na dinâmica abusiva, em especial da mãe, que comumente é vista como cúmplice e não como alguém que faz parte do fenômeno e também precisa de atenção. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo compreender a experiência de mães de crianças vítimas de abuso sexual, adotando para isso o método fenomenológico, amparado na hermenêutica heideggeriana. Tal perspectiva tem como proposta evidenciar a dimensão existencial da experiência de sofrimento cotidiano, tendo as narrativas como via de acesso à experiência vivida. Assim, foram realizadas entrevistas narrativas com três mães de crianças vítimas de abuso sexual. Essas narrativas apontaram o impacto da descoberta do abuso sexual para a família, recaindo sobre a mãe a principal tarefa de acompanhar o filho vitimado junto aos profissionais e a necessidade de reinventar seu papel de mãe a partir das demandas que surgiram após a revelação do abuso. Além disso, as mães relataram que essa revelação veio marcada pela perda de segurança com o mundo, a quebra de confiança com o abusador, trazendo forte sensação de desamparo. Mesmo sendo importante considerar as particularidades atreladas ao papel da mãe diante de um contexto de abuso sexual, aponta-se também a necessidade de propostas de intervenções a nível familiar, para além do enfoque na vítima, considerando que o abuso sexual atinge toda a família.