ANÁLISE ARQUEGENEALÓGICA DA CASA DE SAÚDE SANTA TERESA: ABERTURA, MANUTENÇÃO E FECHAMENTO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
Hospital Psiquiátrico; Arqueologia; Genealogia; Saúde Mental; Atenção Psicossocial.
A história da loucura no Brasil é indissociável da história dos hospitais psiquiátricos, uma vez
que a organização das cidades e sua higiene, pautadas nos moldes franceses do século XIX
dependiam dessas instituições para a manutenção da ordem social. As casas de internamento
tinham o princípio de instituir organização à sociedade capitalista e burguesa nascente, dando
abrigo a loucos, mendigos, prostitutas e todos aqueles que pusessem em risco o projeto de
desenvolvimento em curso, atendendo também ao ideal caritativo, um dos pilares da
sociedade da época. A região do Cariri cearense contou com a existência de um hospital
psiquiátrico, a Casa de Saúde Santa Teresa, que funcionou desde a década de 1970 até o ano
de 2016. Sua inauguração não foi uma aleatoriedade, mas fruto de formações discursivas
específicas e relações de saber e poder que constituíram o alicerce para que o hospital abrisse
suas portas na região, bem como para se manter em funcionamento até o ano de 2016. O
objetivo desse trabalho é construir uma análise arquegenealógica da história da Casa de Saúde
Santa Teresa. Para tanto propõe-se a trabalhar com análise de jornais, revistas e fotografias
ilustrativas referentes à instituição, os quais possibilitam a preservação da memória de uma
época e povo, mas especialmente o reconhecimento das forças de sustentação dessa
instituição. Foram consultadas além de duas publicações jornalísticas importantes do Cariri
cearense (jornal A Ação e revista Itaytera – de 1963 a 1990), os jornais O povo, Diário do
Nordeste e Jornal do Cariri (1990 a 2016). As imagens foram divididas em três blocos de
tempo, a saber: 1900 a 1970, quando da abertura do hospital; 1970-1990, anos de abastado
funcionamento da Casa de Saúde e 1990-2016, período de tensões e fechamento do hospital.
Nessas mesmas fontes documentais, buscou-se dados para a contextualização econômica,
política e cultural do município do Crato, no intuito de articular a história e os discursos
acerca do hospital com as produções políticas e culturais. O resultado consiste numa análise
arquegenealógica da história de um hospital psiquiátrico localizado no sul do Ceará, contada
através de notícias de jornais, revistas e fotografias ilustrativas, apontando as relações de
saber e poder da lógica psiquiátrica manicomial como mecanismo de exclusão, bem como
possibilitando análise da desconstrução do modelo hospitalocêntrico no Brasil enquanto
resultado do movimento de Reforma Psiquiátrica.