AVALIACAO DA MORBIDADE E MORTALIDADE HOSPITALAR POR CANCER DE MAMA E COLO DE UTERO EM MULHERES NO BRASIL NO PERIODO DE 2010 A 2022
Epidemiologia. Câncer de mama. Câncer de colo do útero. Desigualdades em saúde.
O câncer de mama e colo do útero são um grave problema mundial de saúde pública. O rastreamento, a identificação e o tratamento precoces são geralmente os meios mais utilizados na tentativa de reduzir a morbimortalidade. No Brasil, as dificuldades de acesso ao sistema público de saúde levam a diagnósticos em estágios mais avançados dos cânceres e por isso, requerem abordagens terapêuticas mais agressivas que podem resultar em sequelas funcionais, emocionais e sociais. Este estudo objetiva avaliar a morbidade e mortalidade hospitalar por câncer de mama e de útero em relação às regiões brasileiras no período de 2010 a 2022. Trata-se de um estudo ecológico de série temporal realizado de 2010 a 2022 usando os dados de internações hospitalares e óbitos, ambos de domínio público e armazenados no DATASUS do Ministério da Saúde. Os dados foram analisados no programa Joinpoint Regression para obtenção da regressão linear e análise temporal das variáveis. Em relação ao rastreamento dessas doenças, observou-se que a realização de mamografias e exames preventivos apresentou comportamento semelhante, em que há maior oferta desses exames até 2019 e queda durante o período pandêmico. Os resultados mostram que entre 2010 e 2022, as taxas de mamografia variaram de 36 a 71 exames, enquanto no papanicolau as variações foram de 126 e 226 exames citopatológicos por 1.000 mulheres. As hospitalizações por câncer de mama contabilizaram 147 hospitalizações por 100.000 mulheres e para o câncer do colo do útero atingiram o pico em 2019, com 48 hospitalizações para a mesma população. Para ambos, nos anos de pandemia, entre 2020 e 2022, há uma queda das hospitalizações no Brasil e em todas as suas regiões. O mapeamento das distribuições espacial e temporal destas neoplasias está diretamente relacionado às intervenções humanas e contribui para medidas de controle dos cânceres. Além disso, foi observado uma tendência crescente no número de mortes relacionadas ao câncer de mama nas regiões Sudeste e Sul, bem como do câncer de colo do útero nas regiões Norte e Nordeste, provavelmente refletindo condições de vida e saúde mais precárias, menor disponibilidade de recursos e menor cobertura de cuidados primários. Acredita-se na relevância em repensar as prioridades na prática clínica e de gestão do SUS, considerando o processo de trabalho para além da discussão de estratégias de melhorias terapêuticas, mas também incluindo os aspectos biopsicossociais de mulheres com câncer de mama e de útero no contexto local, a fim de garantir a equidade e integralidade na atenção à saúde. Conclui-se que embora o Brasil tenha diversas políticas públicas para o rastreamento dessas doenças, ainda há instabilidade na oferta desses exames, reforçando as fragilidades da rede de cuidado e as mudanças necessárias na organização e qualidade dos serviços prestados.