PROCESSOS SEQUENCIAIS DA DIVERGÊNCIA CITOGENÔMICA EM DONZELINHAS DO GÊNERO Stegastes Jenyns, 1840 (POMACENTRIDAE) DO ATLÂNTICO: VARIAÇÃO INTER E INTRAESPECÍFICA E ANÁLISE DE ZONA HÍBRIDA
Citogenética de peixes, evolução cariotípica, citotaxonomia, inversões pericêntricas, DNAr.
A família Pomacentridae (donzelinhas) constitui um grupo de peixes extremamente diverso e abundante em áreas rochosas e recifes de corais em áreas oceânicas tropicais e subtropicais. No Atlântico Sul Ocidental ocorrem quatro gêneros dos quais Stegastes é o mais representativo. Variações na coloração e sobreposição de caracteres merísticos tornam a taxonomia das espécies do gênero, em certos casos incerta. Neste sentido, as formas insulares S. rocasensis, S. sanctipauli e S. fuscus trindadensis, têm merecido atenção quanto seu status taxonômico e relações com as espécies costeiras S. fuscus e S. variabilis. Aspectos citogenéticos preliminares destas espécies, podem se mostrar desde crípticos à conspícuos. Comparações populacionais, definição de aspectos microestruturais dos cromossomos, e inferências de bloqueios pós-zigóticos podem auxiliar na definição taxonômica e relações filogenéticas dessas espécies. Aqui são apresentadas informações citogenômicas, por meio da hibridização in situ fluorescente de sequências DNAr da maioria das espécies do gênero Stegastes da costa Atlântica da América do Sul, incluindo as do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Fernando de Noronha e Ilha de Trindade. Adicionalmente, foram investigados os padrões cariotípicos em uma provável zona de hibridização das espécies S. fuscus e S. variabilis ao longo do litoral do Rio Grande do Norte, região Nordeste do Brasil. As espécies apresentaram 2n=48, com altos valores de NF (88-90). A heterocromatina tem distribuição similar, com blocos conspícuos nas regiões centroméricas e pericentroméricas. Os loci Ag-RONs são únicos, com exceção de S. variabilis, que apresentou sítios múltiplos. As amostras de S. rocasensis dos Arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo (previamente S. sanctipauli), possuem cariótipos similares, e especificidades estruturais como um par de cromossomos portador de sítios DNAr 18S e 5S colocalizados, corroborando a ausência de divergência citogenética entre elas. S. fuscus da Ilha de Trindade (S. fuscus trindadensis) apresentou um arranjo sintênico de sítios DNAr 18S e 5S adjacentes, em contraste com a população de S. fuscus do litoral, apenas sítios não sintênicos, indicando uma variação conspícua que lhe confere um status de Unidade Evolutivamente Significativa (ESU). Padrões citogenéticos de amostras de S. variabilis e S. fuscus em uma possível zona híbrida, não revelaram cariótipos intermediários, sugerindo um evento esporádico raro e não mantido contemporaneamente. Os padrões citogenéticos das espécies permitem clara distinção citotaxonômica nos níveis de espécie e categorias intraespecíficas (S. fuscus) e confirma uma evolução cromossômica, numericamente conservada, mas predominantemente modelada por múltiplas inversões pericêntricas ao longo da história evolutiva deste gênero.