Avaliação da composição de fungos micorrízicos arbusculares (Glomeromycota) em solos halomórficos no Rio Grande do Norte
FMA, Diversidade, Salinidade, Tolerância, Estresse Abiótico, Acaulospora, nrDNA
A zona litorânea do Rio Grande do Norte (RN) constitui o principal foco de produção de sal do país, impactando de forma relevante a comunidade vegetal e microbiana, assim como o solo desta região. Diante deste cenário, os Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMA), por formarem uma simbiose obrigatória com raízes de plantas, possuem importante função neste sistema planta-solo, aumentando a tolerância dos simbiontes vegetais à ambientes estressantes, como os salinos. Assim, esta tese teve como objetivo identificar a diversidade da comunidade de FMA em uma zona de atividade salina no litoral norte do RN, buscando compreender a influência da salinidade nesta diversidade. Para isto, foram realizadas quatro coletas, durante dois períodos consecutivos de estação seca e chuvosa, entre NOV/2017 a JUN/2019 em três locais com distintos níveis de salinidade (salina em Macau [salina ativa], Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão [controle negativo] e Galinhos [salina natural]) seguidas de análises físico-químico e taxonômicas. Foram identificadas 38 espécies, distribuídas em 20 gêneros de FMA (Acaulospora, Ambispora, Dentiscutata, Cetraspora, Corymbiglomus, Claroideoglomus, Endogone, Entrophospora, Fuscutata, Gigaspora, Glomus, Intraornatospora, Oehlia, Paradentiscutata, Paraglomus, Rhizoglomus, Racocetra, Sclerocystis, Scutellospora e Septoglomus), sendo o ambiente da salina ativa o mais rico e abundante em espécies de FMA, quando comparado aos outros dois locais de coleta, de menor salinidade média. Em relação as estações sazonais de seca e chuva, no geral a estação seca foi mais rica em número de espécies e teve maior abundância de esporos. Segundo análise de UPGMA o que mais correlacionou as amostras de uma mesma área foi a composição vegetal. Contudo, não se pode descartar a influência da salinidade, uma vez que amostras com maiores índices de salinidade apresentaram menor riqueza de espécies do que as amostras com menores índices, dentro de uma mesma área de coleta (salina ativa de Macau). Portanto, mais amostras seriam necessárias para validar estatisticamente esta observação. Além destes resultados, uma nova espécie do gênero Acaulospora, que foi o mais abundante nas amostras, foi descrita, contendo uma ornamentação dupla com depressões em forma de poços, com projeções em seu interior em formato de espinhos, numa visão plana os poços são ligados como estruturas que parecem canais. Juntamente com a descrição da nova espécie, foi realizada uma revisão do gênero Acaulospora com análises filogenéticas usando sequencias do nrDNA mostrou que Acaulospora é um gênero monofilético que inclui também as espécies Kuklospora colombiana e K. kentinensis. Além disso, podemos concluir que as ornamentações descritas para as espécies de Acaulospora, apesar de úteis para a descrição morfológica de espécie, constituem caracteres homoplásicos devido a convergência destas características em grupos de espécies que não compartilham um ancestral único mais recente. Esporos da espécie Corymbiglomus globiferum também coletados nas áreas deste estudo, foram utilizadas e depositadas no herbário da UFRN, analisadas e incluídas no artigo “Sieverdingia gen. nov., S. tortuosa comb. nov., and Diversispora peloponnesiaca sp. nov. in the Diversisporaceae (Glomeromycota)”.