RECORDAÇÃO DE SONHOS SOBRE A REGULAÇÃO EMOCIONAL DE ESTÍMULOS COM VALÊNCIA NEGATIVA DO ENSINO MÉDIO
regulação emocional; sonhos; córtex pré-frontal; fNIRS;
Tendo em vista que os sonhos poderiam ter importante papel na regulação emocional, buscou-se investigar se o aumento de recordação de sonhos poderia influenciar esse processo. Para averiguar esta associação, foram recrutados 41 indivíduos (19 mulheres) na faixa etária entre 18 e 35 anos, que concordaram em participar do estudo. Em seguida, os participantes foram divididos em dois grupos, e preencheram, em duas ocasiões, os formulários do Experimento de Regulação Emocional Cognitiva (CERT). Após a primeira exposição ao CERT, no grupo experimental (G1, n = 21) os participantes preencheram um Diário de Sonhos, por 14 dias, com o objetivo de estimular o aumento da frequência de recordação de sonhos (FRS). No outro, grupo controle (G2, n = 20), foi preenchido um Diário de Sono. Após essa etapa, os participantes foram submetidos novamente ao CERT. Durante os dois momentos do CERT, para avaliar a regulação emocional a partir da exposição a imagens negativas e neutras do IAPS (International Affective Pictures System, 1979), foi utilizado o instrumento Self-Assessment Manikin (SAM) e monitorada a oxigenação de áreas do córtex cerebral usando a espectroscopia funcional de infravermelho próximo (fNIRS). Os participantes responderam ainda a questionários de natureza sociodemográfica, condições clínicas e de sonhos. A análise estatística utilizou os testes de Mann-Whitney e de Wilcoxon e os valores para p < 0.05. Os resultados evidenciaram que o uso do Diário de Sonhos não foi eficaz para aumentar a FRS no grupo G1, quando comparado ao grupo G2, uma vez que ambos os grupos tiveram aumento de FRS. Foi observado ainda que o G1 apresentou menor atividade, estatisticamente significativa, na região anterior do Córtex Pré-Frontal, pós-intervenção, evidenciada no fNIRs. Esta diferença foi restrita à condição Negativo_Visualizar do CERT, o que indica que as alterações registradas na atividade cerebral do G1 estão provavelmente relacionadas à capacidade de regulação emocional implícita, mas não da explícita. Não está claro, entretanto, se essas mudanças estão relacionadas a um aumento da FRS, nem mesmo a uma melhor regulação emocional. A análise do SAM e da RGP, por exemplo, não evidenciaram diferenças significativas entre grupos quanto à variação da resposta emocional entre experimentos. Entretanto, analisando cada grupo separadamente, o G2 apresentou diminuição quanto à condição NegVis em ambas as medidas (em relação à excitação). Além disso, os índices do SAM indicaram que, para os participantes dos dois grupos, as imagens de valência negativa não alcançaram escores semelhantes aos relatados na literatura, o que pode ter contribuído para a ausência de diferenças comportamentais significativas entre os grupos. Ainda, a intensidade da RGP sugere que as condições tendem a diferir quanto à instrução (Reavaliar vs. Visualizar), mas não quanto à valência da imagem (Negativa vs. Neutra). Diante dos resultados observados, os achados deste estudo são insuficientes para a sustentação da hipótese de que o aumento da FRS modula positivamente a regulação emocional. Recomenda-se que as próximas pesquisas neste tema incluam um grupo controle passivo, ou seja, que não realize tarefa alguma durante o período de intervenção. Propõe-se também que os estudos avaliem anteriormente as possibilidades de utilização de estímulos mais eficazes em causar impacto emocional e que acrescentem também imagens de valência positiva para balancear os contextos emocionais.