ESTUDOS MACROECOLÓGICOS DE DUAS ESPECIES DE CANÍDEOS DA AMÉRICA DO SUL: CERDOCYON THOUS E LYCALOPEX CULPAEUS.
ADNmt, Fst, historia evolutiva, modelagem de nicho, raposa, morfometria geométrica, seleção natural.
Os cánidos em geral possuem uma alta vagilidade, assim como um grande potencial de
colonização, sendo estas características acompanhadas por inúmeras variações
fenotípicas. América do Sul é considerado o continente com maior diversidade de
espécies, as quais parecem ter sido o resultado das mudanças climáticas durante o
pleistoceno. Dentro dos canidos do continente, destacam-se duas espécies por sua ampla
distribuição latitudinal, Cerdocyon thous e Lycalopex culpaeus, sendo estas espécies
encontradas em diversos habitat, como Cerrado, Caatinga, Savana, Chaco, Bosques
Andinos, Desertos, entre outros. Estas características de ampla distribuição, em conjunto
com sua relativa curta historia evolutiva, torná-las estas espécies modelos interessantes
para a realização de estudos Macroecológicos. No presente trabalho, analisam-se a partir
de morfometria geométrica as variações fenotípicas do crânio e a mandíbula de C. thous
e L. culpaeus ao longa de toda sua distribuição. A fim de avaliar se esta variação é
resultado de aspectos ecológicos atuais se realizam correlações do tamanho e forma com
variáveis ambientais. Por outro lado se analisa se estas variações fenotípicas são
resultado de processos históricos, a partir de paleomodelos climáticos e análisis de
genética de populações. A espécie C. thous possui uma distribuição disjunta,
encontrando-se populações ao norte e ao sul do Equador, separadas pela bacia do
Amazônia. Ao sul do Equador observou-se um clássico padrão de Bergmann, onde
populações de latitudes maiores mostraram um maior tamanho corporal (b=-0.40,
F=32.44, p<0.001). Sendo este aumento do tamanho relacionado com temperaturas mais
baixas. Entretanto ao norte do Equador observou-se um padrão inverso à regra de
Bergmann, sendo as populações mais próximas do Equador chamativamente maiores
(b=-0.37, F=22.17, p<0.001). Este padrão inverso, parece ser efeito de processos
históricos e não o resultado adaptativo a características ambientais atuais. A partir da
análise da forma do crânio e mandíbula de C. thous observou-se uma forte relação com
os eventos glaciares, observando-se uma clara diferenciação morfológica entre as
subespécies ao longo de sua distribuição. Esta afirmação, se viu reforçada pelos dados
genéticos disponíveis para a especie, observando-se uma forte correlação da forma do
crânio e a mandíbula com a estruturação genética das populações (r=0.755, p<0.01 e
r=0.29, p<0.01 respectivamente). Entretanto, nossos resultados não podem determinar se
esto é o resultados de processos de seleção natural ou eventos de deriva genética. As
análises de L. culpaeus encontram-se em preparação, mas já pode-se observar que
fatores ambientais estão relacionados com o tamanho, e fatores históricos parecem estar
mais fortemente relacionados com a forma da espécie. A partir de nossos estudos,
conseguimos gerar hipóteses biogeográficas sobre a diferenciação das populações, assim
como quantificar qual é a contribuição ecológica e histórica sobre o tamanho e forma, uma
das mais fascinantes perguntas que intrigaram aos biólogos evolutivos.