Efeitos do uso da terra e do nível de intermitência dos rios nas relações entre biodiversidade-estabilidade em escalas espaciais
Uso do solo; Biodiversidade; Intermitência; Estabilidade Regional; Estabilidade local; Assincronia espacial;
As alterações no uso do solo associadas à urbanização e à agricultura podem ter impacto sobre a biodiversidade a nível local, regional e global, com potenciais consequências negativas para a estabilidade dos ecossistemas. Contudo, a maioria dos estudos sobre as relações entre biodiversidade e estabilidade foram realizados localmente. Só recentemente foi proposto que tais relações poderiam ser dissociadas em escalas espaciais. A dissociação espacial ocorre quando muitas comunidades locais são instáveis, mas variam de forma assíncrona no espaço, levando à estabilização regional. A dissociação espacial pode, portanto, resultar numa interpretação enganosa dos padrões de estabilidade à escala local quando o objectivo é conceber estratégias de gestão regional. Concentrando-nos em múltiplas metacomunidades de rios franceses que experimentam níveis contrastantes de intermitência, investigamos (i) se e como o uso da terra influencia a diversidade e estabilidade de macroinvertebrados em múltiplas escalas espaciais e (ii) se a perda de conectividade devido ao aumento da intermitência aumenta a relativa força estabilizadora de assincronia espacial sobre a estabilidade local, resultando em maior dissociação espacial das relações diversidade-estabilidade. No geral, descobrimos que o uso da terra influenciou negativamente a diversidade de espécies locais e a assincronia espacial das populações e comunidades, reduzindo indiretamente a estabilidade das metacomunidades através de diferentes caminhos. No entanto, a importância e a força dessas vias mudaram dependendo do nível de intermitência e do grupo de organismos analisados. Especificamente, a diversidade de insectos respondeu fortemente ao uso da terra, enquanto a diversidade de espécies aquáticas não o fez. Além disso, a contribuição relativa da assincronia espacial para a estabilidade regional foi maior para metacomunidades de sítios intermitentes do que perenes, implicando a necessidade de conservar múltiplos sítios para alcançar a estabilidade regional nesses sistemas. Considerando as previsões de aumento da intermitência dos rios devido às alterações climáticas, os nossos resultados sugerem que os gestores que procuram melhorar a estabilidade regional necessitarão cada vez mais de se concentrar na dinâmica espacial das metacomunidades em vez de confiar em processos à escala local. O nosso estudo também indica a necessidade de mitigar os impactos da urbanização e da agricultura para aumentar a diversidade e a estabilidade dos insectos, tanto local como regionalmente.