Influência das macroalgas sobre a teia trófica de ambientes costeiros impactados pela pesca
Eutrofização, pesca artesanal, EwE, estrutura trófica, desenvolvimento do ecossistema, espécies-chave
Os ambientes costeiros estão sendo frequentemente degradados em decorrência dos impactos antrópicos. A floração de macroalgas é uma consequência da eutrofização dos corpos d'água através da regulação bottom-up, que pode favorecer organismos herbívoros, detritívoros e filtradores e aumentar a produtividade primária bruta e respiração dos ecossistemas. Da mesma forma, a sobrexploração pesqueira pode atuar na regulação top-down, favorecendo floração de macroalgas via declínio de peixes predadores de topo. A fim de compreender a complexidade das teias tróficas dos ecossistemas costeiros impactados por macroalgas e atividade pesqueira, utilizamos o software Ecopath with Ecosim. Para isto, dois ambientes costeiros explorados por pescadores artesanais foram avaliados e comparados: Baía Formosa (BF) e Porto do Mangue (PM) (ambiente influenciado por floração de macroalgas), ambos no estado do Rio Grande do Norte, nordeste brasileiro. A elevada concentração de nutrientes somada às condições semiáridas de PM favoreceu uma maior biomassa de Produtores Primários (Macroalgae e Phytoplankton) e Peixes neste ecossistema. Já BF apresentou maior biomassa de invertebrados, favorecidos pela baixa biomassa algal e sedimento mais fino deste ecossistema, composto por silte e argila e enriquecida em matéria orgânica. Tais características estruturais de PM resultaram em uma Produção Primária Líquida elevada e diagrama de fluxo baseado na regulação bottom-up. Entretanto, as macroalgas não apresentaram importância significativa na teia trófica, visto que grande parte da sua biomassa foi transformada em detrito e exportada para ecossistemas adjacentes, o que o caracterizou como um ecossistema imaturo. O oposto foi encontrado em BF, porque este ecossistema foi considerado maduro, com elevado fluxo de consumo e respiração, e ainda, grande representação de todos os níveis tróficos no seu diagrama de fluxo. A pesca, por sua vez, não favoreceu a floração de macroalgas, mas atingiu diferencialmente os demais compartimentos entre os ecossistemas. Em BF, a captura especializada em predadores de topo favoreceu os peixes de níveis tróficos intermediários. Já em PM, a pesca teve efeito prejudicial ao longo da teia, porque a captura foi generalizada, impactando negativamente os diversos níveis tróficos. Portanto, a eutrofização e atividade pesqueira em PM geraram maior estresse para as espécies que compõe a teia trófica deste ecossistema, dificultando a evolução para um estado mais estável e maduro de sucessão ecológica.