Interações tróficas irão expandir sua distribuição e diminuir sua intensidade diante das mudanças climáticas
Pressão de alimentação ;Modelos Bayesiano;Projeções futuras;Atlântico Ocidental;padrões latitudinais
Ambientes tropicais abrigam maior biodiversidade, intensidade e diversidade de interações ecológicas quando comparados a ambientes extratropicais. Este padrão latitudinal é resultado de longos processos evolutivos, mas a rápida tropicalização de ambientes temperados pode alterá-los. Tais eventos já foram observados para diversos organismos, incluindo peixes recifais. No entanto, os efeitos das mudanças globais sobre os padrões de larga escala nas interações de espécies ainda foram pouco explorados. Peixes recifais são um bom modelo para investigar essas mudanças por serem consumidores importantes nesses ecossistemas, cujos padrões de diversidade e interações são melhor compreendidos. Uma vez que mudanças na temperatura podem afetar a fisiologia dos organismos, nós hipotetizamos que (i) o aquecimento de áreas extratropicais previstos para o futuro pode intensificar as interações tróficas e permitir que espécies tropicais expandam sua área de ocorrência e consequentemente suas interações; (ii) o aumento de temperatura pode ultrapassar os limites de tolerância térmica dos organismos inibindo suas interações tróficas. Este é o primeiro trabalho a avaliar como as interações tróficas de peixes recifais herbívoros, invertívoros e onívoros irão responder ao aumento de temperatura. Nós utilizamos dados de ocorrência, biomassa e interações tróficas de peixes recifais ao longo de 61° graus de latitude no Atlântico Ocidental, e utilizamos modelos Bayesianos para projetar a intensidade de interações em 2050 e 2100 com base nos cenários do ”Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas” (IPCC). Observamos que as interações tróficas irão declinar entre 50-100% nos trópicos, indicando que o aumento de temperatura vai exceder o limite térmico dos peixes. No hemisfério norte, entre 20ºN e 40ºN, as interações irão declinar 100%, devido à tropicalização dos herbívoros e às correntes marinhas em direção ao norte. Este fenômeno não é observado no hemisfério sul. Interações de invertívoros irão diminuir entre 5-100% ao longo do Atlântico Ocidental, indicando um limite térmico menor. Interações dos onívoros irão declinar 100% e 30% nos extratrópicos norte e sul, respectivamente, mas irão aumentar entre 5-20% nos trópicos, o que pode estar associado à plasticidade alimentar que possuem. Também, peixes podem adaptar e aclimatar às mudanças das condições ambientais, mas não sabemos se haverá tempo suficiente para isso. Prever como as mudanças climáticas irão afetar as interações tróficas contribuem para entender o futuro dos ecossistemas e de seus serviços.