Dançando a carne: uma poética do corpo no mito adâmico
Dança Contemporânea, Processo de Criação, Corpo, Mito Adâmico
Neste estudo dissertativo refletimos sobre a dimensão sensível do corpo, que nos possibilita participar do espaço mítico e constituí-lo como espaço potencial para a criação artística em dança, experiência atribuidora de sentidos ao mundo, à vida, à existência. Trata-se de um escrito que debulha algumas reflexões acerca da condição humana a partir de um olhar lançado sobre o mito de Adão, excitando-nos a pensar sobre as possíveis relações entre a arte e o mito na contemporaneidade, como campos do saber abertos à criação, como espaços semânticos capazes de atribuir novos sentidos ao vivido por meio das pulsações de um corpo que é mito e que é dança. Esse estudo tem dentre seus objetivos a intenção de aventurar um olhar sobre o referido mito, possibilitando-nos novas leituras, significados, e compreensões do mesmo a partir da experiência e vivência num processo de criação em dança contemporânea. Para tanto, referencia-se metodologicamente na Fenomenologia, ou melhor, na atitude fenomenológica proposta por Merleau-Ponty (1994), que considera a experiência vivida do corpo como fonte primordial de conhecimento. Debruçamo-nos assim sobre esse processo de criação em dança contemporânea, que veio a originar uma obra artístico-coreográfica, à qual intitulamos de “A Carne que Sou”, e nos colocando em contemplação dessa dança que ecoa do mistério, que emerge das profundezas do corpo, e que traz à superfície o humano e o seu mundo, suas relações. Compreendemos aqui, portanto, a dança como nossa sensível guia e orientadora de reflexões de ordem ontológica e epistemológica, capaz de validar e perpetuar o mito enquanto herança de sabedoria ancestral.