Mulheres Pedreiras e seus canteiros de obras – Construção de uma tramaturgia a partir de memórias pessoais e narrativas femininas da comunidade de Peixinhos-PE.
Dramaturgia feminista; dramaturgas pernambucanas; criação dramatúrgica; artetnografia; escrita performática.
O objetivo deste trabalho é a criação de um texto teatral a partir das minhas interações pessoais com a Vila das Mulheres Pedreiras, experiência pioneira de um grupo de mulheres que construiu suas próprias casas no bairro de Peixinhos em Olinda (PE). Tendo testemunhado na infância o dia-a-dia daquela vila, fui tocada pelas questões feministas, políticas e sociais, daquilo que ainda hoje pode ser encarado como uma espécie de invasão de um espaço de trabalho masculino. Como pernambucana, mulher e artista, ciente de que a dramaturgia ainda é um território predominantemente ocupado por homens, me dei conta da necessidade de também lançar um olhar sobre dramaturgas de Pernambuco, notadamente as que abordam pautas feministas em suas obras: Josephina Álvares de Azevedo (“O voto feminino”, 1890), Luciana Lyra (“Guerreiras, 2009”) e Andala Quituche (“Sina, 2017”). Quanto ao trajeto metodológico que adoto para abordar o universo da vila, ele é dirigido para dar conta das múltiplas tramas e camadas decorrentes do jogo entre concretude e subjetividade nas dinâmicas do cotidiano daquelas mulheres, abrindo espaço também para manifestações da memória, do sensível e do poético. Para abarcar tantas peculiaridades, recorro aos recursos criativos disponíveis na escrita performática (LYRA, 2020) e às possibilidades de contemplar a criação artística no processo de pesquisa, valendo-me, neste caso, da abordagem artetnográfica (LYRA, 2011). O caráter múltiplo e interativo entre tramas/dramas pessoais que transitam entre passado, presente e futuro, me levaram a denominar este processo de escrita, em particular, como tramaturgias cotiDianas.