Os mestres e o aprendiz: perambulando por ilhas de resistência.
Padronização cultural; Resistência; Experiências vividas; Educação; Vida
Monocultura da mente... Essa idéia, apresentada por Vandana Shiva, reflete bem a fase em que temos vivido no mundo: uma noção de civilização que, desde algumas décadas, caracterizada por uma forte onda tecnocrática, tem-se mostrado dominante e hegemônica. Baseada numa padronização de pensar e agir, sentir e desejar, essa onda acaba implicando no que se pode chamar da crise no processo civilizatório da humanidade. Destruição de modos de vida mais simples e harmônicos com a natureza, relações humanas cada vez mais distantes, fragilização de valores, como o respeito, a bondade e o amor, são algumas das conseqüências dessa homogeneização comportamental. Observa-se, por outro lado, um arquipélago de resistência cultural e cognitiva frente a essa onda devastadora. Edgar Morin e Ceiça de Almeida fazem alusão a esse arquipélago referindo-se ao “Pensamento do Sul”, o que não se trata de uma questão meramente geográfica. Referem-se, pois, a alguns lugares, pessoas, ilhas que mantêm costumes e saberes antigos, passados oralmente ou pelo exemplo, dos mais velhos aos mais novos, ou vice-versa, num fluxo quase constante. Formas particulares de sentir o mundo ao seu redor, os homens, os animais, as plantas, as rochas, até seres não-viventes, mestres ou encantados, guias espirituais. Próxima a uma lógica do sensível, como propõe Claude Lévi-Strauss, essa leitura, postura mais atenta, observadora e sábia do meio, baseia-se no tocar, no cheirar, no comer, no ver, e, acrescento, no sentir. Diante disso, procuro discorrer acerca de certas experiências que tive o prazer de vivenciar em algumas dessas ilhas de resistências. Conversas, percepções, observações, sensações... Histórias, prosas, poesias, músicas, fotografias, desenhos... o que pudesse servir para retratar um pouco das reflexões e formas de se (auto)conhecer e produzir conhecimento, bem como de uma formação/Educação para a vida, foi bem utilizado nesta obra etnográfica. Espaço para a subjetividade e emoções tive/tenho/terei bastante... tudo para que o amigo leitor possa se sentir viajando pelo mundo da tradição, da resistência...