AS RECONFIGURAÇÕES DO CAMPO UNIVERSITÁRIO NO BRASIL E SUAS REPERCUSSÕES EM UMA INSTITUIÇÃO PERIFÉRICA – FAFIDAM/UECE
Campo universitário. Ensino Superior. Reconfigurações.
A presente pesquisa trata de uma análise sobre o campo universitário brasileiro, com recorte empírico realizado em uma universidade estadual situada no interior do Ceará. Procura-se, como objetivo central, analisar as principais reconfigurações ocorridas no campo universitário nas últimas décadas e apreender as repercussões destas reconfigurações na Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM/UECE) – instituição estadual de ensino superior, pertencente à Universidade Estadual do Ceará. Parte-se do pressuposto que diferentes “imposições de legitimidade”, vêm sendo operacionalizadas no interior do campo universitário por meio de processos de regulação da prática científica cada vez mais burocratizada, exigência de níveis de produtividade em espaços curtos de tempo, pressão por publicações em periódicos qualificados. Além disto, a fragmentação entre ensino, pesquisa e extensão, permeada por impositivos de uma política com viés mercadorizante vem produzindo mudanças significativas no interior do campo universitário nacional. Desta forma, pressupõe-se que, dada a autonomia relativa deste espaço, ocorre também um amplo processo de retradução/refração dessas imposições, como estratégia dos agentes para preservar o campo de mudanças alheias aos interesses específicos de sua natureza. Assim, “dizemos que quanto mais autônomo for um campo, maior será seu poder de refração e mais as imposições externas serão transfiguradas, a ponto, frequentemente, de se tornarem perfeitamente irreconhecíveis” (BOURDIEU, 2004, p. 22). O presente trabalho ancora-se numa abordagem da sociologia reflexiva, mais especificamente na abordagem praxiológica desenvolvida pelo sociólogo Pierre Bourdieu. No âmbito das principais reconfigurações do campo universitário, a partir dos anos de 1990, pode-se dizer que o desmonte do modelo único - fundamentado no princípio da autonomia universitária, pautado ao final dos anos de 1970, e assegurado na Constituição Federal de 1988, somado à indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão – é o núcleo primordial de alterações realizadas no ensino superior a partir da década de 1990. Atrelado a este processo a reforma do Estado, caracterizada pelo avanço da globalização e neoliberalismo empreendeu uma reengenharia em toda a estrutura social. No lastro das modificações instituídas no campo universitário, a partir de 1995, quando da formulação da Lei de Diretrizes e Bases a inserção de dispositivos definindo que a organização acadêmica para a educação superior seria classificada em Universidades, Centros Universitários, Institutos Superiores ou Escolas Superiores, houve a oficialização do processo de diversificação institucional. A reestruturação da organização acadêmica inclui profundas mudanças na identidade e no projeto de desenvolvimento institucional das universidades públicas (CATANI & OLIVEIRA, 2004). A partir disto, Mancebo (2015) aponta dois caminhos decorrentes, primeiro a quebra do modelo de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, e segundo o estímulo a novas modalidades de formação e de pesquisa.