SUICÍDIO ENTRE PESSOAS LGBTQIAP+: UMA ANÁLISE ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS DISCURSIVAS DE SUJEIÇÃO E A INCIDÊNCIA DO COMPORTAMENTO SUICIDA
Suicídio; Sujeição; Gênero; Sexualidade; Poder; Cisnormatividade.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), em apresentação do seu mais recente relatório, declara que a cada quarenta segundos uma pessoa perece em decorrência de suicídio e, nessa perspectiva, aproximadamente 700 mil são vítimas todos os anos. Aos que recorrem à literatura especializada para compreender mais sobre o fenômeno, no que tange recortes como sexualidade e gênero, em se tratando de pessoas pertencentes à comunidade LGBTQIAP+, encontram frequentemente discussões incipientes e dados epidemiológicos inconsistentes acerca do comportamento suicida. Partindo dessa problemática, esta pesquisa visou analisar associações entre minorias sexuais e de gênero e a ocorrência de comportamentos suicidas a partir da influência de práticas discursivas de sujeição que se manifestam através de dimensões do contexto socioeconômico e socioafetivo. Para tanto, os esforços desta pesquisa se concentraram especificamente em identificar de que maneira as dimensões supracitadas subvertem ou denotam dispositivos de biopoder, influentes na produção da heteronormatividade e cisnormatividade e, por conseguinte, na ocorrência de fatores precipitantes ao comportamento suicida. Com esse fim, uma análise documental foi empreendida em legislações, mapas e dossiês brasileiros, tendo por recurso no tratamento uma análise de conteúdo a partir da metodologia proposta por Bardin. Entre os resultados obtidos, é possível assegurar que a população LGBT+ tem que lidar com desamparo aprendido, desumanização e desrealização que subjetivamente estão ligados à formação do comportamento suicida desses grupos. Esse processo de precarização da vida é catalisado pela heteronormatividade e cisgeneridade presentes nas relações e na organização de políticas de Estado ou governo. Apesar disso, muitas conquistas foram logradas no Brasil e no mundo, conquistas possíveis graças à construção de políticas públicas voltadas para a população, com a participação direta da sociedade civil no desenho das estratégias e na formação dos espaços. Todavia, as condições ainda são precárias para a população, pois outros espaços de trânsito ainda não estão resguardados, sobretudo para jovens, adultos e idosos, vítimas em ambientes como a escola, mercado de trabalho ou em momentos cruciais da vida, como a aposentadoria e que em condições de vulnerabilidade também estão associados ao surgimento do comportamento suicida.