Antonin Artaud; Cinema; Crueldade; Corpo; Pensamento.
Antonin Artaud (1896-1948) publicou mais de duas mil páginas apenas pela editora Gallimard. Sessenta e oito anos após a sua morte seus escritos continuam sendo lançados. Artaud escrevia compulsivamente sobre diversos assuntos, lançando pseudópodes em tantas direções quantos eram seus interesses, alguns dos quais se ramificavam e se desenvolviam, enquanto outros adormeciam esperando desdobramentos que, por vezes, vinham ou não. Teatro, cinema, poesia, literatura, filosofia, história, pintura e desenho eram alguns dos seus temas de reflexão. A incursão pela chamada sétima arte, por exemplo, foi um dos projetos interrompidos pelo francês de Marselha. Deixou poucos - mas profundos - textos sobre o assunto, variando entre o encantamento e o desânimo. Atuou em vinte e dois filmes e deixou sete roteiros, dos quais apenas um foi filmado. Relativamente curta (1923-1935), mas consistente, a carreira de Artaud pelo cinema é ainda pouco analisada, sendo mais conhecidas suas propostas para o teatro, principalmente a noção de Teatro da Crueldade. É a partir dela que responderemos a algumas questões: Artaud elaborou uma noção de crueldade para além do teatro? É possível pensar a cultura da crueldade para o cinema? Podemos refletir sobre o sujeito contemporâneo a partir dessa abertura? A ideia de crueldade pensada pela chave do cinema propõe estabelecer uma nova relação do sujeito contemporâneo com a imagem, o corpo e o pensamento, no sentido de abrir um outro canal de diálogo com a cultura e resgatar a potência inexplorada da arte como meio de se posicionar frente ao mundo e aos desafios que ele diariamente nos coloca.