Grande parte dos estudos ou das discussões teóricas, científicas e acadêmicas sobre o fenômeno da centralidade urbana, no âmbito das relações ou das interações entre as cidades, ocorre a partir das atividades terciárias; de uma ótica, majoritariamente, hierárquica, econômica e funcional; observa-se então, o poder de atração (de polarização de fluxos) de uma determinada cidade e a sua posição hierárquica, no contexto das redes e das regiões urbanas, a partir da disponibilidade (ou da diversidade e quantidade) dessas atividades. Uma das grandes referências teóricas para os estudos da centralidade urbana, nessa perspectiva, é a Teoria da Localidades Centrais (TLC), desenvolvida em 1933 pelo Walter Christaller; muitos estudos operacionais e classificatórios, a exemplo das Regiões de Influência das Cidades ou REGIC’s (IBGE, 1972, 1987, 2000, 2008, 2020), vem utilizando, de forma direta ou indireta, essa base teórica. Apesar da importância e das fortes colaborações da TLC para as pesquisas sobre as redes, as regiões e as hierarquias urbanas, esse referencial apresenta algumas incoerências e limitações, o que gera necessidades de complementações ou releituras, e desvela outras possibilidades de apreensão do fenômeno aqui mencionado. É nesse sentido que a nossa tese (apresentada parcialmente nesse momento; por meio deste escrito de qualificação) se delineia; estamos desenvolvendo uma análise (leitura) espaço-temporal para esse fenômeno, pensada e sistematizada a partir do processo (ou da teoria lefebvriana) de produção do espaço (da relação sociedade-espaço-tempo) e das transformações e da complexidade das interações espaciais vigentes no mundo globalizado (para além da ideia rígida da hierarquia urbana). Dentro das possibilidades de recortes espaço-temporais, optamos por trabalhar com a centralidade urbana no âmbito dos centros locais (da menor escala urbano-hierárquica) e a partir do turismo (de uma atividade econômica ou prática social que geralmente não está interligada aos estudos desse fenômeno), considerando, especificamente, o período pós década de 1990 (momento de expansão do turismo a nível mundial e nacional; e de ebulição da globalização) e os municípios de Cairu (BA), de Jijoca de Jericoacoara (CE) e de Tibau do Sul (RN). Destarte, objetivamos analisar, em uma perspectiva espaço-temporal, as conformações da dinâmica da centralidade interurbana em centros locais decorrentes das atividades ou das práticas do turismo, considerando os espaços e os contextos citados. Metodologicamente, nossa tese vem sendo planejada e desenvolvida a partir de três eixos centrais: a) em leituras, reflexões e discussões conceituais, teóricas e analíticas sobre a problemática-chave do nosso estudo; b) em análises espaciais e temporais (abordagens históricas, geográficas e documentais) sobre as cidades estudadas; c) e em pesquisas de caráter empírico (em fase de organização e execução). Esses eixos têm se desdobrado em diferentes procedimentos. Para a presente qualificação, além das duas seções iniciais, vinculada a compreensão geral da tese, apresentamos mais duas seções voltadas ao entendimento da inserção funcional e da participação (posicionamentos) de Cairu, de Jijoca de Jericoacoara e de Tibau do Sul no contexto das redes urbanas e das dinâmicas (ou das tramas) turísticas da região Nordeste e do Brasil. De antemão, podemos destacar que essas urbes ocupam os degraus mais inferiores no sistema citadino brasileiro; paradoxalmente, estão no patamar mais elevado na categorização do turismo nacional. Esse fato desnuda diferentes possibilidades de entendimento (apreensão, leitura) sobre a importância dos lugares, ou seja, de suas centralidades; e dá suporte as discussões futuras do nosso estudo.

 

Palavras-Chave: Centralidade. Centros Locais. Turismo. Produção do Espaço. Heterarquia.