Estudo da agregação molecular da anfotericina B em diferentes sistemas carreadores
Anfotericina B; sistemas carreadores; super-agregados; derivado solúvel de anfotericina B; espectroscopia.
A anfotericina B (AmB) é um fármaco de características físico-químicas bastante peculiares: de caráter anfifílico e anfotérico. Essas características tornam difícil sua veiculação em sistemas terapêuticos. Atualmente, a AmB é veiculada por via intravenosa nas formas de micelas, lipossomas e complexos lipídicos. A literatura demonstra que existe uma íntima relação entre a forma como a AmB está complexada ao sistema carreador e sua resposta biológica. Entretanto, há uma deficiência nos dados de caracterização fisico-química dos produtos disponíveis contendo AmB. Portanto, o objetivo deste trabalho foi realizar a caracterização físico-química de sistemas carreadores de AmB visando uma predição de sua resposta biológica. Os sistemas micelares de AmB foram os primeiros produtos disponíveis à prática clínica, de forma que sua patente expirou há alguns anos. Neste trabalho, o sistema original e dois de seus similares foram caracterizados e o aumento da estabilidade destes sistemas após aquecimento, pela formação dos super-agregados de AmB foi estudado. O sistema liposomal AmBisome® também foi caracterizado e, pela primeira vez, foi estudada a possibilidade de super-agregação, a exemplo dos sistemas micelares, a partir de lipossomas. A incorporação de AmB em sistemas nano e microemulsionados foi apresentada e as características físico-químicas destes sistemas foram estudados, com demonstração de suas aplicações no tratamento ocular de infecções fúngicas e também para o tratamento de leishmaniose visceral. As principais técnicas de caracterização aplicadas foram espectroscopia UV-Vis, dicroísmo circular e espalhamento dinâmico de luz. A técnica de calorimetria de titulação isotérmica (ITC) foi utilizada numa tentativa de medir a energia de formação dos superagregados. Adicionalmente, um derivado solúvel de AmB foi desenvolvido e caracterizado por espectroscopia de massa atômica, infra-vermelho, UV-Vis e dicroísmo circular, bem como incorporado em sistema microemulsionado como estratégia de veiculação deste derivado solúvel. Os resultados revelam que os sistemas contendo AmB apresentam diferentes formas de agregação molecular dependendo do carreador, da forma de incorporação do fármaco e do diluente empregado para redispersar o sistema. Segundo a literatura, o estado de agregação está intimamente ligado à eficácia e à toxicidade da molécula. Nos sistemas nanoemulsionados a AmB apresenta-se na forma agregada e multi-agregada. Na microemulsão, está incorporada na forma monomérica. Os sistemas micelares aquecidos
dão lugar à formação de super-agregados de AmB enquanto os sistemas lipossomais são incapazes de se modificar em super-agregados. O derivado solúvel de AmB apresentou características que diferem da AmB original. Contudo, quando incorporado na microemulsão, o estado de agregação é similar ao da molécula original tanto nas análises de UV-Vis quanto de dicroísmo circular. Pode-se concluir que a forma de agregação de AmB varia não somente de acordo com o tipo de carreador, mas também com sua concentração no meio e com o tipo de incorporação, ainda que num mesmo tipo de carreador. Finalmente, o derivado solúvel abre a possibilidade de veiculação do fármaco em carreadores de caráter aquoso para o tratamento de diversas enfermidades e por várias vias de administração.