(In)gerindo uma Política de Prevenção: etnografia da PrEP na biomedicalização da resposta ao HIV no Rio Grande do Norte, Brasil
Antropologia da saúde; Profilaxia Pré-Exposição ao HIV; PREP; Sexualidades; Políticas Públicas; Saúde Pública.
Esta pesquisa, de natureza antropológica, investiga como a política pública nacional de prevenção ao HIV, por meio da PrEP, se estabelece num contexto histórico e social de biomedicalização da vida, que teve início no século XX. Ao mesmo tempo, o estudo se volta para as relações íntimas e cotidianas que se formam na cena pública de Natal, capital do Rio Grande do Norte, no Nordeste do Brasil. Nesse percurso, são expostas as ranhuras, os desafios e as nuances dessa política, percebendo que a complexidade do vivido, composta por diversas agências – coletivas e individuais, formalizadas ou não – atravessa, das formas mais variadas, noções de “acesso”, “adesão” e “uso” à PrEP. A produção e análise dos dados antropológicos foram sustentadas por uma observação participante em fricção intensa entre minhas experiências e as de meus/minhas interlocutores(as) em contextos presenciais e por meio de suportes tecnológicos de interação, como o Grindr e o WhatsApp. Ademais, foi indispensável a análise de documentos oficiais do Ministério da Saúde e de informações de acesso público oferecidas por gestores e profissionais da saúde de Natal. No primeiro capítulo, resgato e reintegro a PrEP ao seu contexto maior, a partir de um panorama histórico e social do HIV e Aids na “era da biomedicalização”, traçando paralelos entre a dinâmica global e nacional e destacando desafios como retrocessos nos financiamentos e a precarização das organizações civis. No segundo, analiso a consolidação da PrEP enquanto produto da “evidência científica” e instrumento de política pública, por meio do exame dos Protocolos Clínicos, das Diretrizes Terapêuticas e dos ensaios clínicos que fundamentaram sua incorporação pelo Governo Federal. O terceiro capítulo adota um olhar antropológico para investigar a implementação da política pública em Natal (RN), mostrando como dinâmicas políticas, sociais, econômicas e de gestão municipal afetam a qualidade dos serviços e as experiências dos interlocutores na busca por acesso à PEP, à PrEP e ao tratamento para ISTs. Por fim, o quarto capítulo propõe uma análise integrada das interfaces entre políticas públicas, práticas de prevenção e experiências da vida cotidiana e societária, apresentando as múltiplas camadas do mundo social da prevenção em Natal e destacando as razões internas e sociais que orientam interlocutores tanto a adesão quanto a recusa da PrEP – desde a desconfiança e o pânico moral até a circulação de desinformações e rumores, elementos que podem ocasionar rupturas biográficas e transformar as formas de “fazer a prevenção”.