MOBILIDADE E AGÊNCIA ESPIRITUAL: TRANSNACIONALIZAÇÃO DAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS EM MADRID A PARTIR DO ILÊ OGUM OIÁ AXÉ ODARA
Transnacionalização, religiões afro-brasileiras, mobilidade religiosa, Agência Espiritual.
A transnacionalização religiosa apresenta-se como práticas, crenças e instituições religiosas que ultrapassam as fronteiras nacionais. Esse processo pode ocorrer por meio do uso de tecnologias digitais, redes institucionais, mobilidade de pessoas, representada por fluxos e processos migratórios. Um exemplo da transnacionalização religiosa é a presença de terreiros de religiões afro-brasileiras em diferentes países (Bahia, 2015; Capone, 2024; Frigerio, 1993; Oro, 1999; Pordeus, 2009; Saraiva, 2010). Sendo assim, a presente pesquisa objetiva analisar como a mobilidade de pessoas, em conjunto com a agência de entidades espirituais, influência e molda a transnacionalização dessas religiões. Tomamos como lócus de pesquisa o Ilê Ogum Oiá Axé Odara, localizado na cidade de Madrid, Espanha. O terreiro foi fundado pelo Babalorixá Raul de Ogum, nascido no Uruguai, onde conheceu e iniciou a prática das religiões umbanda e quimbanda. Posteriormente, ele obteve seu sacerdócio na religião batuque de nação Jeje-Ijexá, no Brasil. Atualmente, pai Raul é dirigente do terreiro em Madrid, onde realiza cerimônias das três religiões mencionadas. A investigação conta com o desenvolvimento de uma etnografia multissituada (Marcus, 1995) para acompanhar os múltiplos locais percorridos pelo sacerdote, bem como os fluxos de ideias e movimentos de pessoas. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas para construir a trajetória de vida religiosa dos membros do terreiro considerando as histórias de vida como linhas (Ingold, 2015; 2018), compostas por movimentos contínuos e interconexões. Somado a isso, foram utilizadas fotografias para complementar o texto etnográfico e ilustrar o campo de pesquisa. A primeira imersão em campo ocorreu de abril a junho de 2023, enquanto a segunda etapa está sendo realizada de abril a julho de 2024.A vivência no templo incluiu a participação nas reuniões de ensinamentos das doutrinas religiosas, organização do terreiro e em diversas cerimônias e rituais, como a festa de pretos velhos na umbanda, giras de exu na quimbanda e rituais de limpeza e preparação de oferendas no Batuque. Além disso, foi possível perceber a interação entre membros e visitantes do terreiro, destacando as diferentes nacionalidades e as variadas formas de chegada e permanência no templo. Observaram-se ainda as interações entre entidades espirituais e as pessoas, representando a noção de agência, pois essas entidades constituem um ponto de interação e influência no cotidiano dos indivíduos.