TESTEMUNHAR E ARQUIVAR A DOR: UMA ETNOGRAFIA DE UM DISPOSITIVO HUMANITÁRIO
Palestina. Dispositivo humanitário. Viagem. Testemunha. Arquivo
Esta dissertação pretende uma etnografia do Ecumenical Accompaniment Programme in Palestine and Israel (EAPPI), um Programa humanitário criado pela organização ecumênica World Council of Churches (WCC). Entende este Programa como parte de um dispositivo humanitário, a saber, suas técnicas e procedimentos de governo destinados a “salvar populações vulneráveis” e o discurso humanitário produzido neste meio, que irão compor o circuito de solidariedade e ajuda humanitária nos territórios palestinos. Esta dissertação propõe uma etnografia deste gesto de “compaixão”, tomando como recorte a figura do “acompanhante ecumênico” no âmbito do WCC/EAPPI, e centrando-se nas categorias de testemunha e arquivo. Ela investiga a maneira como essa disposição inicial para o que seria “amenizar o sofrimento alheio” surge entre os candidatos brasileiros a EA, e a mecânica através da qual ela é capturada por um complexo maior de organizações ditas humanitárias, no qual o WCC/EAPPI se encontra inserido. Desta forma, pretendo analisar dois elementos centrais na ação e configuração deste dispositivo. Proponho, por um lado, analisar as técnicas e as operações de governança praticadas pelos EA’s brasileiros, bem como investigar a motivação da viagem à Palestina, suas experiências - impressões, trajetórias, comoções e discursos como parte daquilo que o antropólogo Didier Fassin (2012) denominou razão humanitária. E, por outro, o testemunho humanitário sob a produção de um arquivo/documentos que pretende erigir uma verdade sobre o que ocorre nos territórios ocupados palestinos. O acervo de informações dos testemunhos escritos, incluindo banco de imagens, tabelas de estatísticas, mapas, etc, condensa uma dada visão da realidade vivida pelos palestinos, a saber, a produção de um arquivo que se pretende uma verdade sobre o “conflito Israel-Palestina”.