A COZINHA DA BOEMIA POTIGUAR : estilo alimentar, identidade local e sociabilidade
Cozinha; Boemia; Bares.
A cidade alta, primeiro centro político, administrativo e comercial da cidade de Natal, hoje abandonado como espaço de moradia, é reconhecido pelos seus frequentadores noturnos como um reduto boêmio. Nos rincões da cidade, que guardam as marcas do passado, funcionam bares frequentados por boêmios que se encontram para comer, beber, discutir política e ouvir música. Estes estabelecimentos oferecem uma “cozinha tradicional potiguar" e uma culinária de boteco que remetem ao estilo de vida do boêmio cujo modelo remete ao malandro carioca (DAMATTA, 1997). Os habitués são mais do que clientes, eles formam uma família aberta composta pelos donos dos estabelecimentos, os consumidores assíduos (homens aposentados), estudantes universitários, militantes de esquerda, poetas e jovens que desejam se aproximar das suas raízes culturais. Também aparecem moradores de rua e turistas em busca de uma "outra Natal" vista como mais autêntica e onde se preservam valores e comidas "da terra": os pratos preparados e as bebidas (meladinha e cerveja) vendidas nos bares de Seu Zé Reeira, de Nazaré e Bar da Meladinha são associados à identidade local e boêmia. Assim, a cozinha da boemia seria uma das expressões escolhida pelo grupo para se definir e se reconhecer (LÉVI-STRAUSS, 2004). A pesquisa propõe uma análise dos pratos, dos modos de consumo e da sociabilidade como expressões da identidade boemia natalense. A partir da observação realizada entre os meses de fevereiro e julho de 2018, das conversas informais com os frequentadores dos dois bares, de entrevistas semiestruturadas com os cozinheiros, apresentamos algumas reflexões que orientam a pesquisa de mestrado que está sendo desenvolvida.