Entre cavalos e ciganos: a inserção dos ciganos Targino na vaquejada
Elite cigana; vaquejada; fronteiras étnicas; animais; consumo
O presente trabalho tem como objetivo entender de que modo os ciganos Targino Cavalcanti, que residem em Campina Grande-PB, vêm acionando sua identidade nos processos interacionais, levando em consideração que eles estão inseridos no ambiente da vaquejada e constituem uma elite cigana em relação aos demais ciganos situados no território Paraibano. A vaquejada foi o ambiente pelo qual pude acessar esses ciganos e perceber a relação deles com os animais, a história em torno do parque, os bens consumidos nesse ambiente e os significados que são atribuídos a esse cenário.Algumas questões têm norteado a nossa análise, as fronteiras étnicas, o consumo, e a relação dos ciganos com os animais. No caso das fronteiras étnicas, essas podem ser vistas como sinais ou signos manifestos escolhidos e exibidos pelo grupo para demarcar uma identidade contrastiva nos processos interacionais. Assim, ao longo da pesquisa, algumas categorias foram contrastadas como: Cigano Targino e ciganos, cigano e não cigano, cigano e vaqueiro, ciganos e agropecuaristas. Além dessas questões, nossa pesquisa tem mostrado que os bens que constroem esses ciganos enquanto uma elite, não foram adquiridos apenas como uma apropriação de bens ou pura satisfação de necessidades individuais, mas como um catalisador de diferenças e construtor de uma identidade cigana. Portanto, a aquisição do parque de vaquejada, os cavalos e os bois em nossa analise, não é visto apenas como uma prática individual, compulsiva, irracional, despolitizada e irrefletida, mas como um reafirmador de uma identidade marcada pela prática de viver uma “vida gostosa” próximo da natureza e dos animais. Com base nisso, nos questionamos, a inserção desses ciganos na vaquejada não seria uma nova forma de pensar as andanças (nomadismo) e reviver os momentos narrados pelos seus pais e avós? O fato da vaquejada ser realizada em um ambiente relativamente afastado da zona urbana, e ter a presença de muitos animais como bois e cavalos sugere a tendência a uma vida simples e livre tão aclamada pelos ciganos? Para responder a essas questões recuperamos algumas abordagens antropológicas como identidade, etnicidade, centralidade dos animais na antropologia e o consumo.