Análise das alterações transcricionais sexo-específicas do transtorno depressivo maior
Transtorno depressivo maior; análise de expressão diferencial de genes; análise de expressão diferencial de transcritos; análise diferencial de uso de isoformas; biologia de sistemas.
O transtorno depressivo maior (TDM) é um importante distúrbio neuropsiquiátrico com grande prevalência no Brasil, sendo caracterizado por persistente humor deprimido e/ou perda de prazer por pelo menos duas semanas. O TDM é uma condição incapacitante e que predispõe a outras patologias complexas, como doenças cardiovasculares, podendo até resultar em suicídio. O TDM é mais prevalente em mulheres do que em homens e observa-se diferenças anatômicas, imunológicas, neuronais e hormonais, as quais refletem diferentes prognósticos e sintomatologias entre os sexos. No entanto, não há consenso quanto às alterações transcricionais do TDM em homens e mulheres, bem como as implicações funcionais destas alterações no metabolismo celular. A maior parte dos estudos transcricionais do TDM tenta explicar a fisiopatologia do TDM buscando por alterações da expressão global dos genes. Entretanto as alterações podem ocorrer também em nível de transcrito, de modo que o processamento alternativo de transcritos, pode estar alterado. O presente trabalho busca investigar as alterações transcricionais do TDM em homens e mulheres por meio da análise de expressão diferencial de genes (DGE), a análise de expressão diferencial de transcritos (DTE) e a análise do uso diferencial de isoformas (DTU) em amostras post-mortem de seis regiões cerebrais. O conjunto dos genes identificados em pelo menos uma das três abordagens foi chamado de genes transcricionalmente alterados (TAGs), os quais representam o perfil de alteração transcricional ampla do TDM. Ao todo, 1075 TAGs foram identificados principalmente nas regiões de córtex pré-frontal. Ainda, aproximadamente metade das alterações transcricionais ocorreram apenas em nível de transcrito. Verificamos uma quase ausência de sobreposição entre os genes alterados identificados em homens e mulheres, indicando que o perfil das alterações transcricionais do TDM, em nível de expressão global de genes e de transcritos, é distinto entre os sexos. Verificamos alterações nas vias de processamento e exportação de RNA mensageiro no córtex orbitofrontal de mulheres, além da alteração da expressão do gene DDX39B, um constituinte da maquinaria de processamento de RNA, em diferentes regiões cerebrais de homens e mulheres, respectivamente. Além disso, mostramos que o gene ATAT1 encontra-se alterado em múltiplas regiões cerebrais de mulheres e o gene ABR encontra-se alterado em múltiplas regiões cerebrais de homens, constituindo potenciais biomarcadores sexo-específicos para o TDM.