Desenvolvimento e validação de protocolo para a realização de registro alimentar fotografado por pessoas com deficiência visual
Deficiência visual. Consumo alimentar. Fotografia.
Pesquisas que objetivem avaliar o consumo alimentar de pessoas com deficiência visual ainda são escassas. A maioria dos estudos voltados a essa população se concentra em identificar seu estado nutricional e as dificuldades relacionadas à alimentação, e quando avaliam a ingestão dietética desses indivíduos, não empregam métodos específicos validados para deficientes visuais. Diante disso, o desenvolvimento de estratégias alternativas para avaliação do consumo alimentar que atendam as especificidades da pessoa com deficiência visual contribuirá para as ações de promoção à saúde e prevenção de agravos, bem como proporcionará mais autonomia nos cuidados em saúde e nutrição dessa população. Assim, o objetivo da presente pesquisa foi desenvolver e validar protocolo para a realização de registro alimentar fotografado por pessoas com deficiência visual a partir de telefone celular smartphone. Trata-se de um estudo de desenvolvimento e validação que foi realizado em três etapas. Na primeira, foi estabelecido a técnica para o registro fotográfico de alimentos por pessoas com deficiência visual a partir de celular do tipo smartphone e a redação dos protocolos para execução. A segunda, compreendeu o registro fotográfico dos deficientes visuais, de três refeições padronizadas (desjejum, almoço/jantar e lanche), seguindo os protocolos desenvolvidos no estudo. Na terceira, para fins de validação dos protocolos, houve a avaliação das fotografias por um painel de especialistas (nutricionistas e fotografo) com relação ao enquadramento, foco e ângulo para a identificação dos tipos e quantidades dos alimento/preparações, a partir de uma escala Likertde cinco pontos. Os nutricionistas também realizaram o registro alimentar estimado com base na observação das fotos que foi comparado ao dos pesquisadores. Foi calculado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) para avaliar a concordância dos especialistas. Foram testados cinco protocolos, tendo permanecido dois, considerados factíveis de realização por indivíduos que não enxergam. A amostra foi constituída por 40 pessoas com deficiência visual, sendo a maioria cegos (77,5%), do sexo masculino (67,5%) e de idade adulta (90%). A identificação do tipos de alimentos apresentou boa concordância entre os profissionais, independente do protocolo para o enquadramento (IVC=0,87 no protocolo “celular em 45º” e IVC=0,90, “celular em 90º”), foco (IVC=0,86 e IVC=0,90) e ângulo (IVC=0,90 e IVC=0,88) em todas as refeições. A partir da análise do registro alimentar estimado pelos especialistas percebeu-se dificuldade no detalhamento para dois, dos 13 alimentos avaliados, quais sejam, frango e suco da refeição do almoço com frequência de acerto de 45% e 50%, respectivamente (protocolo “celular em 45º”) e 20% e 55%, no protocolo “celular em 90º. A concordância para estimar a quantidade dos alimentos foi melhor para o pão francês (IVC=1,00 no protocolo “celular em 45º” e IVC=0,95, no “celular em 90º), café com leite (IVC=0,80 protocolo “celular em 45º” e IVC=0,70, no “celular em 90º) e o suco de uva industrializado (IVC=1,00 em ambos os protocolos). Conclui-se, portanto, que os protocolos desenvolvidos permitem a avaliação qualitativa da alimentação de pessoas com deficiência visual, indicando a necessidade de outras estratégias adjacentes para melhorar a avaliação quantitativa pelo profissional, a ser encaminhada juntamente com as fotografias.