Comportamentos de risco para transtornos alimentares, imagem corporal e associações com variáveis nutricionais em bailarinas: uma visão comparativa com sedentárias e desportistas
Anorexia nervosa, bulimia nervosa, autopercepção, estado nutricional, composição corporal, balé.
Bailarinas constituem grupo de risco para o desenvolvimento de Transtornos Alimentares (TA) devido às rigorosas exigências no desempenho físico, contribuindo para a insatisfação da imagem corporal (IC). Este estudo objetivou avaliar a presença de comportamentos de risco para TA, a IC e suas associações com variáveis nutricionais em bailarinas, comparando-as com desportistas e sedentárias. Trata-se de um estudo transversal, realizado entre agosto de 2016 a junho de 2018. A amostra envolveu participantes do sexo feminino, em três grupos: bailarinas (n=19), desportistas (n=40) e sedentárias (n=27). Analisou-se o Índice de Massa Corporal (IMC) e a composição corporal por meio da absorciometria dupla de raios X (DXA). Para avaliar os comportamentos de risco para TA, utilizou-se os questionários Eating Attitudes Test (EAT-26), direcionado aos sintomas da Anorexia Nervosa (AN) e Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE), voltado para os comportamentos da Bulimia Nervosa (BN). Para a percepção da imagem corporal, aplicou-se o Body Shape Questionnaire (BSQ) e Escala de Figuras de Silhuetas (EFS). Nas bailarinas, o IMC foi significativamente inferior (Teste One-way ANOVA, p=0,014) quando comparado aos demais grupos estudados, de 20,9 (2,35), enquanto para desportistas e sedentárias de 22,9 (2,73) e 23,3 (3,47), respectivamente. O percentual de gordura corporal (%GC) foi significativamente menor nas bailarinas 29,8% (8,01) em relação aos demais grupos (p≤0,0005). A densidade mineral óssea (DMO) do corpo total pelo DXA mostrou-se dentro dos limites esperados para idade, nos três grupos, sendo em média de 0,3 (0,82) Z-scores. O EAT-26 demonstrou que todos os grupos apresentaram comportamento normal para AN, sem diferenças significativas por grupo, com mediana de 11,0 (7,0;16,0) pontos. O BITE também não diferiu entre os grupos estudados (p=0,054), contudo, a pontuação mediana das bailarinas foi de 15,0 (12,0;23,0), enquanto a média das desportistas foi de 21,6 (7,73) e das sedentárias foi de 23,8 (6,37). O BSQ demonstrou que a percepção da IC não diferiu entre os grupos (p=0,223), sendo a média de pontos de 93,0 (30,1). A presença de distorção da IC avaliada pela EFS também não foi diferente entre os grupos estudados (11% nas bailarinas, 27% nas desportistas e 26% nas sedentárias, p=0,051), assim como a insatisfação com a IC (11% nas bailarinas, 23% nas desportistas e sedentárias, p=0,366). O IMC e %GC apresentaram correlação positiva e significativa com a pontuação do BSQ nas bailarinas (IMC: r2 = 0,577, p =0,010; %GC: r2 = 0,509, p =0,026), da mesma maneira que o IMC nas desportistas (IMC: r2 = 0,632, p = 0,0005), e IMC e %GC nas sedentárias (IMC: r2 = 0,670, p =0,0005; %GC: r2 = 0,468, p = 0,016). Concluiu-se que não há comportamento sugestivo para TA nas bailarinas, porém existiu comportamento de risco para BN nas desportistas e sedentárias, como também não houve diferença significativa na distorção/insatisfação da IC entre os grupos. Houve correlação positiva com o IMC e a percepção da IC nos três grupos, assim como o %GC e percepção da IC nas bailarinas e sedentárias.