BULLYING: UMA REFLEXÃO ENTRE ADOLESCENTES EMOCORE
Subcultura Punk. Subcultura Emocore. Bullying. Estigma social. Mass media.
No cenário da Inglaterra da segunda metade do século XX, às vésperas do Jubileu da rainha britânica Elizabeth II, surge a subcultura Punk em meados da década de 1970, formada por jovens proletários de Londres que reagiram às condições sociais daquele momento. Baseados na ideologia do “do it yourself” (faça você mesmo) e por vezes associados ao anarquismo, os jovens Punks se contrapunham ao modelo social de cultura de massa e aos valores vigentes alinhados pelo processo de readaptação econômica, cultural e social que ocorria no mundo após a II Guerra Mundial e se manifestavam diante das novas configurações sociais determinadas pelos conflitos da Guerra Fria e pela reestruturação econômica que afetava ainda mais a parcela da população proletária britânica. Ao final da década de 1970, embora dada toda a visibilidade, reconhecimento e importância como modelo contestatório, o movimento que originou a subcultura Punk quase se extinguiu pela sua atitude violenta e atos de vandalismo e, por esse motivo, posteriormente adota uma postura política mais conscientizada. Associado a subcultura Punk e ao estilo musical Punk Hardcore, surge na década de 1980 o movimento Emocore (termo que significa Emotional Hardcore), que pretendia reformular a imagem de violência e descompromisso outrora reproduzida pelo Punk, abordando temáticas que diziam respeito aos sentimentos e conflitos pessoais e resgatando a estética Punk Rock. Nas décadas seguintes, sua configuração a transforma em uma subcultura juvenil, segundo as teorias de estilo e estética subcultural de Hebdige (2005) e Patrick Williams (2011). O Emocore ganha espaço na sociedade como uma subcultura e é tomada pela indústria midiática como uma possibilidade de mercado de consumo, reproduzindo entre os jovens Emos fashionismos, estilos e gostos próprios ao grupo que fazem referência ao legado do Punk e do Rock (preferência pela cor preta, tênis All Star e acessórios com rebites) e às tendências ditadas pela moda (franjas compridas, cabelos coloridos, maquiagem também entre os rapazes), em consonância ao que propõe o mass media. Além disso, os jovens Emos apresentam uma exacerbação das demonstrações afetivas entre os pares. Por esta estética e comportamento frente ao que é dado socialmente, acabam muitas vezes sendo alvo do estigma social (Goffman, 2008), manifestado também por atos de violência, seja física ou moral, igualmente observados na escola. Nesta perspectiva, o que se percebeu em observações iniciais foi a diminuição da manifestação do grupo Emo em ambientes escolares e de convívio social, tais como shopping centers e praças. Com essa dissipação, a formação de guetos em locais isolados se tornou um dos fenômenos que circundam a dinâmica peculiar do sentido de grupo que, por outro lado, é fluída (Laai, 2008). Esta fluidez seria vista na pesquisa realizada por Laai (2008) pelo discurso dos jovens que defendem que eles possuem um estilo e que isto não significa que sejam Emos. Uma fuga através de uma identificação paradoxal que faz do grupo um não-grupo poderia ser um sintoma da emodinha ou da aversão da normatização social diante do estranho, das humilhações e atos de violência simbólica ou mesmo do Bullying? Assim, propõe-se no trabalho o estudo do fenômeno Bullying, amplamente discutido na atualidade no ambiente escolar por autores como Costantini (2004), Fante (2005), Maldonado (2009), Middelton-Moz & Zawadski (2007), Campos & Jorge (2010), Jorge (2009) e Silva (2010), contra estudantes Emos, nas escolas públicas e particulares de Natal/RN. O tema Emocore tem contornos pouco explorados, apesar da adversidade na sociedade à sua existência. Portanto, foram utilizados para embasamento teórico deste estudo os trabalhos de dissertação de mestrado de Laai (2008) e Bispo (2009). Pretende-se observar a relação Bullying X Estigma e os tipos de violências ocorrentes contra os Emocore. Para tanto, foi realizado um estudo de revisão bibliográfica na abordagem sócio-cultural, dividido em quatro capítulos e suas subdivisões, utilizando elementos próprios da subcultura em questão para a sua compreensão e contextualização. A população-alvo serão alunos adeptos da subcultura Emocore das redes de ensino pública e privada da cidade de Natal/RN. A pesquisa de campo será realizada através de entrevista semi-estruturada, com características de conversas informais. A forma de abordagem mais empática se torna também uma estratégia, considerando que se trata de um grupo de identificação que se mostra fragilizado pelo estranhamento social. Atualmente, os capítulos de revisão bibliográfica se encontram estruturados e concluídos e estão sendo realizados os primeiros contatos com jovens reconhecidos como Emos; a partir deles, será possível iniciar a entrada em grupos Emocore para a realização da pesquisa de campo. A previsão para defesa da dissertação é dezembro de 2012.