Investigação do funcionamento cognitivo de pacientes pediátricos diagnosticados com leucemia linfóide aguda – LLA
Leucemia Linfóide Aguda, neuropsicologia, neurodesenvolvimento, oncologia pediátrica.
O presente estudo tem como objetivo investigar o impacto do tratamento oncológico sobre o funcionamento cognitivo de crianças sobreviventes de Leucemia Linfóide Aguda (LLA), tipo de neoplasia mais comumente encontrada em pacientes pediátricos. Dada a atual sofisticação terapêutica, os índices de sobrevivência de crianças diagnosticadas com LLA aumentaram consideravelmente, contudo, a literatura aponta que esta eficácia terapêutica encontra-se freqüentemente acompanhada de efeitos neurocognitivos adversos, vivenciados pela maioria dos sobreviventes na forma de queixas acadêmicas e sociais que ocorrem principalmente com o passar dos anos. Os tratamentos quimioterápico e radioterápico utilizados na fase do tratamento destinada à prevenção da doença no Sistema Nervoso Central (SNC) – principal sistema de metástase da doença – têm sido associados a déficits globais e específicos no funcionamento cognitivo, possivelmente relacionados a alterações neurodesenvolvimentais, visto que esta doença acomete principalmente crianças entre dois e cinco anos de idade, faixa etária que se constitui como etapa importante de maturação cerebral. Uma vez que um bom desenvolvimento e funcionamento das funções cognitivas constituem fator crítico para a aprendizagem normal, sabe-se que dificuldades nesse âmbito acarretam prejuízos diversos à vida sócio-acadêmica dessas crianças, tornando-se essencial a investigação acerca das modalidades e extensão dos déficits encontrados nesse âmbito. Com esse propósito, pretende-se realizar mapeamento do funcionamento cognitivo de crianças diagnosticadas com LLA no município de Natal, na faixa etária entre 6 e 12 anos, que se encontram em tratamento ou obtiveram alta há no mínimo um ano e que foram submetidas a tratamento apenas quimioterápico como profilaxia para o SNC. Também estão inseridas nesse estudo, crianças saudáveis em condições de idade, sexo, escolaridade e nível sócio-econômico semelhantes àquelas apresentadas pelas crianças com LLA. As crianças saudáveis, integrantes do grupo-controle, serão selecionadas em instituições públicas e privadas de ensino do município de Natal e adjacências, enquanto as crianças com LLA foram encontradas nas principais instituições públicas de tratamento e acompanhamento para a doença no município, a saber: Liga Norte Rio Grandense Contra o Câncer, Hospital Infantil Varela Santiago, Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva e Grupo de Apoio à Criança com Câncer. Nesse sentido, os sujeitos serão divididos em três grupos, com efetivo mínimo de 10 (dez) sujeitos cada: 1) Crianças diagnosticadas com LLA em tratamento; 2) Crianças diagnosticadas com LLA fora de tratamento há no mínimo 1 ano; 3) Crianças saudáveis que terão seus desempenhos nas atividades comparados com os de crianças com LLA. Para cumprir o objetivo proposto está sendo utilizado protocolo avaliativo composto por instrumentos padronizados para a população brasileira e por tarefas qualitativas, abarcando diferentes aspectos do funcionamento neuropsicológico: desempenho intelectivo, atenção, memória, visoespacialidade e visoconstrução e funções executivas. Os dados coletados serão submetidos à análise classificatória de agrupamento multidimensional para variáveis categóricas (nominais), utilizando-se algoritmo de análise do tipo 'análise de agrupamentos em duas etapas' (TwoStep Cluster Analysis), possibilitando a identificação de agrupamentos (clusters) de variáveis e/ou sujeitos em conjuntos de dados. Até o presente momento foram selecionados 20 participantes com LLA a partir de levantamento nos prontuários médicos e no Serviço Social das instituições de tratamento e acompanhamento. Foram concluídas as avaliações de 15 sujeitos com LLA, destes 10 encontravam-se em tratamento e 5 fora de tratamento, sendo 5 do sexo masculino e 10 do sexo feminino. Está em andamento a constituição do grupo-controle de acordo com o perfil sócio-demográfico dos participantes com LLA. Os dados iniciais apontam para um desempenho na média inferior para a idade e escolaridade dos sujeitos no que se refere ao domínio verbal, funcionamento executivo e mecanismos atencionais, bem como velocidade de processamento em especial no grupo fora de tratamento. No grupo de crianças em tratamento é possível observar pontuações mais rebaixadas em sujeitos do sexo feminino quando comparados aos sujeitos do sexo masculino. Este dado é condizente com a literatura que defende a existência de diferenças neurodesenvolvimentais associadas ao gênero, principalmente quanto ao processo de mielinização das fibras nervosas que pode ser afetado pela ação de um dos principais fármacos utilizados no tratamento da LLA, o metotrexato. Acredita-se que dados posteriores, oriundos do grupo constituído por crianças saudáveis, irão possibilitar uma maior compreensão dos resultados encontrados, principalmente em atividades de cunho qualitativo utilizadas para avaliar memória, visoespacialidade e visoconstrução. Por fim, pretende-se com esse estudo produzir conhecimento relevante que possa subsidiar a elaboração de estratégias voltadas para a minimização de seqüelas encontradas e, conseqüentemente, proporcionar uma maior qualidade de vida a essas crianças.