O DESENVOLVIMENTO DO PODER DE SER AFETADO: SUJEITO E LIBERDADE A PARTIR DO TRABALHO NO CONSULTÓRIO NA RUA - UMA MIRADA VIGOTSKIANA
Consultório na rua; Saúde do trabalhador; Vigotski; Spinoza; Liberdade.
Essa tese busca compreender sobre as relações que se estabelecem entre a vida afetiva de profissionais do Consultório na rua (serviço da Atenção Básica do SUS focada no cuidado com a população em situação de rua) e as características próprias das atividades de trabalho relacionadas. Pensaremos tal relação entre atividade e afeto desses profissionais como uma perspectiva privilegiada para pensarmos aspectos técnico-operativos e ético-políticos desses profissionais de uma política social brasileira. Sendo uma pesquisa exploratória em Psicologia, acabamos por realizar um importante trabalho de resgate das propostas metodológicas vigotskianas e, o que tornou-se mais um centro da pesquisa, as noções de sujeito e liberdade vigotskianas por meio do conceito spinozano de poder ou potência de ser afetado. Nesse sentido, acreditamos ter conseguido organizar algumas de suas propostas e contribuir com a restauração da psicologia desenvolvimento por esse psicólogo revolucionário. Foi com tal arcabouço que, por meio de um questionário nacional e dois encontros virtuais com pessoas que já trabalharam no Consultório na rua, buscamos fornecer elementos sobre a vida afetiva, técnico-operativa e ético-política desses profissionais. O que nos parece possível considerar pelo que vimos é que tais profissionais vivem um importante processo de disputa pelas formas com que se deve exercer o cuidado e que, dada as formas de gestão pública e vínculo empregatício, os profissionais mais comprometidos com um cuidado voltado à liberdade acabam mais adoecidos ou, como eles dizem, "amordaçados". Percebemos, nesse sentido, uma importante disputa entre um conhecimento que percebe o outro em sua inteireza, respeitando e aprendendo com a diferença, buscando um cuidado para além do aspecto curativo, mas que possa fortalecer a população em situação de rua como um sujeito político. Tal perspectiva que aproximamos de uma clínica ampliada, é contraposta e sufocada por uma perspectiva mais mecanicista e burocratizada, marcada por uma clínica ambulatorial e curativa. Tal perspectiva, segundo vimos, chegou com mais força nesse serviço recentemente e vem, pouco a pouco, apagando a antiga história das formas de trabalhar por um cuidado mais amplo e libertário.