A recusa do cadafalso: uma análise sobre o papel das eleitas ao legislativo pelo estado potiguar
luta organizada de mulheres; mulheres no legislativo; violência política de gênero; pioneirismo norterio-grandense; enovelamento patriarcado-racismo-capitalismo.
Historicamente, as mulheres foram impedidas de ocupar os espaços públicos e políticos de poder, tendo que se organizar coletivamente para resistir a violações recorrentes. No que diz respeito à inserção das mulheres na política institucional no Brasil, houve o estabelecimento de uma vanguarda por parte das norte-rio-grandenses, pioneiras em exercer o voto e em serem eleitas a cargos políticos. Apesar de avanços na garantia de direitos, a presença feminina nos espaços políticos institucionais ainda é consideravelmente pequena, enquanto as violências sofridas são constantes. A dominação e exploração que subjuga as mulheres se fundamenta, conforme esta compreensão, na imbricação patriarcado-racismo-capitalismo. Definiu-se, assim, como objetivo central desta pesquisa, investigar em que medida a presença de mulheres eleitas pelo estado potiguar para o Poder Legislativo pode impactar a superação das estruturas que subjugam as mulheres. Norteada pelas lentes teóricas feministas e marxistas, definiu-se como procedimentos metodológicos o mapeamento das eleitas ao legislativo como deputada estadual, federal e senadora pelo Rio Grande do Norte, desde 1990 até 2018; a realização de entrevistas com base em roteiro semiestruturado; e a análise documental dos projetos de lei e ementas redigidos pelas eleitas identificadas no mapeamento. A análise das entrevistas resultou em três núcleos de significação: a) da experiência de ser-para, b) da experiência de ser mulher-política, c) da experiência de ser no legislativo. Identificou-se que a experiência material e subjetiva da mulher carrega em si as violências do ser-mulher na sociedade patricarcal-racista-capitalista. Conclui-se, portanto, que, para que a presença de mulheres no legislativo resulte em um enfrentamento direto às relações desiguais entre homens e mulheres, faz-se necessário que tais mulheres reconheçam as violências exercidas e se comprometam com uma atuação antipatriarcal, antirracista e anticapitalista.