OS BATUQUES QUE ECOAM E LADRILHAM PELAS RUAS DE NATAL (RN): A NAÇÃO ZAMBÊRACATU E A EXPERIÊNCIA DO ESTAR-EM-COMUM.
experiência, estar-em-comum, Nação Zambêracatu.
O presente projeto de doutorado ambiciona dedicar atenção à experiência do estar-em-comum (isto é, de comunidade) da Nação Zambêracatu, Maracatu-Nação de Natal, demorando-se em narrar suas tradições culturais e religiosas, em acompanhar as redes de sociabilidade, as políticas de amizade e as relações de poder construídas em seu cotidiano e em discutir as reverberações do cenário contemporâneo, midiatizado e pandêmico na sua experiência de comunidade, bem como em suas práticas sagradas e culturais. Utilizou-se da pesquisa etnográfica, intentando acompanhar o cotidiano do Maracatu de Natal através de observações participantes, entrevistas abertas, conversas informais, bem como do devir-cronista e da técnica da deriva. Entre 2020-2021, esta entrada em campo aconteceu por vias digitais e, em 2022, presencialmente. As tradições da Nação, em virtude do vínculo com os Orixás, da relação com o tempo, da ancestralidade, da importância da comida, do corpo e do matriarcado, possibilitaram perceber o estar-em-comum nos momentos de hospitalidade, na ideia de família e na transmissão dos conhecimentos pela oralidade. As suas sociabilidades, políticas de familiaridade/ amizade e relações de poder se apresentam como num manguezal: os antagonismos e divergências se ramificam como formações arbóreas; há uma biodiversidade rica e plural que prolifera no território, com diferentes formas de vida que constroem alianças e afetos entre si; há também conflitos e disputas como entroncamentos em uma comunidade. Quando batuca nas ruas, entre o terror dos projetos coloniais, racistas e eugenistas que atravessam a urbe, seja pelo seio do Estado, da sociedade civil ou por outras vias, e a alegria e pujança das tradições ancestrais, a Nação transforma a cidade em terreiro, tornando-a casa de Exu. No cenário pandêmico, o corpo e a subjetividade foram submetidos a tecnologias biomoleculares, microprostéticas e digitais. É nessa cena midiatizada, nessa cidade de bits e pixels, onde imperam dispositivos de visibilidade, vigilância e controle, que incentivam a espetacularização, o culto à performance e a exposição de si, que o Zambêracatu reinventou suas tradições para se manter vivo.