SOFRIMENTO ÉTICO-POLÍTICO NO COTIDIANO DE TRABALHADORAS COMERCIÁRIAS DA ZONA SUL DE NATAL-RN
Cidades; Trabalhadoras; Interseccionalidade; Sofrimento ético-político; Narrativas.
A Zona Sul natalense urbaniza-se no ordenamento voltado ao turismo, serviços e construção civil, em que são produzidas narrativas hegemônicas e modos de ocupação da cidade atrativas aos investimentos externos e apelo ao consumo, com segregação espacial e reprodução de opressões. Para as mulheres brasileiras, principalmente negras e pobres, a circulação nos espaços evoca desafios materiais e simbólicos. Essas injustiças, resultantes de processos exclusão social/inclusão perversa do sistema capitalista, podem ser experimentadas como dor, atingindo coletivos subalternos. Esta pesquisa se propôs a investigar como se expressa o sofrimento ético-político e os modos de resistência no cotidiano de trabalhadoras em estabelecimentos comerciais de conveniência e alimentação na Zona Sul de Natal-RN. Observações de campo, diários de pesquisa e análise de implicação constituíram a fase inicial do estudo, que utilizou como instrumentos um roteiro de entrevista narrativa com questionário sociodemográfico. Foram produzidas narrativas a partir de entrevistas com 04 mulheres com experiência de balconista nos bairros de Ponta Negra e Capim Macio. No cotidiano das balconistas, se expressou a produção de sofrimento ético-político a partir das disparidades de gênero, raça, classe e territoriais nos encontros entre trabalhadoras periféricas e clientes de classes abastadas. As mulheres sentem medo, tristeza, indignação e desmotivação diante das discriminação sexual e racial; assédios moral e sexual; precarização do trabalho e dos obstáculos na migração entre bairros, agravados pelos arranjos interseccionais. Estratégias coletivas e atitudes desassujeitadoras são modos de enfrentamento comuns, embora o atendimento ao cliente esteja em primazia no funcionamento dos estabelecimentos. A reprodução de lugares subalternos em que a freguesia posiciona as balconistas revela as heranças coloniais de subordinação, exploração e objetificação sexual sobre as mulheres pobres e racializadas. As narrativas de experiências historicamente invisibilizadas expressam as contradições de uma urbanização excludente e intolerante e apontam a necessidade de perspectivas interseccionais para criticá-la.